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Ações de halterofilistas contra confederação enfraquecem o Brasil no Pan

Fernando Saraiva treina em Lima para os Jogos Pan-Americanos - Wander Roberto/COB
Fernando Saraiva treina em Lima para os Jogos Pan-Americanos Imagem: Wander Roberto/COB
do UOL

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em Lima (Peru)

24/07/2019 04h00

Terceira maior delegação dos Jogos Pan-Americanos, só menor que a dos donos da casa e dos norte-americanos, o Brasil tem apenas cinco atletas inscritos nas provas de levantamento de peso. É um número baixo se comparado com os 12 de Colômbia e Equador, por exemplo. O número baixo é explicado por contínuas desavenças entre os atletas e a Confederação Brasileira de Levantamento de Peso (CBLP).

Duas ações diferentes, lideradas por atletas que hoje fazem parte da delegação do Brasil em Lima, reduziram o número de brasileiros nas duas edições do Campeonato Pan-Americano, em 2017 e 2018, que valiam pontos para definir o número de atletas de cada país no Pan.

A primeira delas foi de Fernando Saraiva. Em 2017, ele, que mora nos Estados Unidos, não viajou ao Brasil para disputar o Campeonato Brasileiro, competindo na mesma data nos EUA. A CBLP considerou que ele não cumpriu requisito obrigatório e não o convocou para o Campeonato Pan-Americano.

Fernando, atleta mais forte do continente, pediu e conseguiu liminar na Justiça de São Paulo alegando que a confederação havia convocado outros atletas sem índice. Para não ter que convocar seu desafeto, o presidente Enrique Montero determinou o corte de quem não tinha índice. O peso pesado acabou indo ao Pan mesmo assim, competindo como convidado da organização.

Desde então, ele e seu pai, Horácio Reis, que era presidente da Federação Paulista e liderava um movimento de oposição a Montero, levantaram a bandeira branca e deixaram de bater de frente com a confederação. "Eu faço meu papel, que é competir. Eu só preciso ter as condições para isso", argumenta Fernando.

No ano passado, Fernando não se envolveu quando um grupo de atletas de São Paulo, especialmente do Pinheiros, seu clube, decidiu boicotar a seletiva para o Campeonato Pan-Americano. Eles discordavam dos critérios apontados pela confederação e queriam debatê-los com Montero, que prometeu ir à seletiva e não foi. Marco Túlio Gregório colocou uma cadeira na área de competição, sentou nela, e deixou claro que ninguém competiria.

Diversos atletas assinaram uma carta cobrando a confederação e nenhum deles foi convocado para o Campeonato Pan-Americano de 2018, com a confederação dando preferência para os halterofilistas ligados a federações estaduais que dão respaldo a Montero na presidência da entidade. Os resultados ruins deram poucos pontos ao Brasil na busca por vagas no Pan de Lima.

Com só cinco vagas, a CBLP convocou tanto Marco Túlio quanto Fernando. O primeiro é da mesma categoria do albanês naturalizado brasileiro Serafim Veli (até 96kg) e ambos têm chance de medalha. Fernando, que passou por cirurgia no joelho e diz estar só com 85% de sua condição física, acha que se levantar 400 quilos entre arremesso e arranco fatura a terceira medalha de ouro seguida. Ele costuma somar pelo menos 420 quilos.

Além deles, foram chamadas Jaqueline Ferreira (87kg) e Natasha Figueiredo (até 48kg). Liliane Nascimento, que assim como Jaqueline se recusou a participar do boicote do ano passado, também está em Lima. O UOL Esporte acompanhou um treino da equipe na terça (23) e a viu participar dos trabalhos com uniforme de atleta e levantando peso. Mas sua credencial é de treinadora. Segundo o chefe de equipe, o colombiano Diego Martinez, ela veio a Lima para ganhar experiência como técnica, para treinar para o Mundial e, como única treinadora mulher, para acompanhar Jaqueline e Natasha na pesagem.

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