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Como Wolff foi de 'aventureiro' a chefe mais eficiente da F-1 em dez anos

Toto Wolff, diretor-executivo da Mercedes - Maxim Shemetov/Reuters
Toto Wolff, diretor-executivo da Mercedes Imagem: Maxim Shemetov/Reuters
do UOL

Julianne Cerasoli

Do UOL, em Mônaco

23/05/2019 04h00

Jean Todt, Ron Dennis, Frank Williams, Colin Chapman. Nenhum chefe de equipe da história da Fórmula 1 chegou perto do sucesso que Toto Wolff obteve desde que assumiu o comando da Mercedes em 2013. Desde então, o austríaco de 47 anos venceu cerca de 75% das provas que disputou. O segundo nessa lista é Todt, com percentual de vitória de 40%.

Nem o próprio Wolff poderia imaginar uma história de tamanho sucesso quando entrou na Fórmula 1, há dez anos. Na época, inclusive, ele sequer imaginava que seria chefe de equipe, como contou com exclusividade ao UOL Esporte.

"É terrível, dez anos! Vi uma foto do meu primeiro ensaio fotográfico na Williams e acho que mudei bastante porque na foto eu estou saudável, feliz e jovem. E hoje não estou mais saudável, jovem ou feliz", disse, rindo. "Cheguei na Fórmula 1 como um investidor, em um papel puramente financeiro e três anos depois me vi em uma situação na qual, junto com Frank, estava comandando a equipe. E isso foi uma surpresa."

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Wolff se refere a sua porta de entrada da Fórmula 1, como acionista da equipe Williams. O austríaco conta que Frank Williams o chamou para uma conversa, disse que precisava pagar a hipoteca e que esse era o preço das ações. Wolff topou.

Paralelamente à Williams, o investidor já tinha relações com a Mercedes, tendo comprado o time de DTM (categoria de turismo alemã) da marca. E, quando aos alemães estavam procurando alguém que pudesse ser, ao mesmo tempo, chefe e acionista de seu time na F1, seu nome apareceu no topo da lista.

Em seu sétimo ano como chefe da Mercedes, Wolff caminha a passos firmes para o sexto título de construtores, buscando igualar o recorde da Ferrari de seis conquistas entre 1999 e 2004. Mas ele garante que a caminhada foi bem mais difícil do que os números possam sugerir.

"Fiquei ainda mais surpreso em ter me envolvido na Mercedes e ter tido a oportunidade, a responsabilidade e a honra de representar a Mercedes neste campeonato. Mas todos esses anos foram desafiadores em termos de manter o nível de energia alto, determinar os objetivos certos, encontrar motivação e desenvolver a organização de forma que ela consiga se adaptar a novas situações", afirmou o austríaco.

"Não dá para congelar uma equipe ou uma organização só porque ela está indo bem, você precisa adaptá-la de maneira quase darwinista para sobreviver. E a sensação é que cada um desses anos foi uma montanha enorme que tive que escalar. Mesmo que, de fora, a sensação não tenha sido essa", concluiu.

Toto Wolff (à direita), chefe da Mercedes, reprovou manobra de Rosberg e avisou: 'Isso [acidente] não deve e não vai acontecer mais" - Mercedes/oficial - Mercedes/oficial
Imagem: Mercedes/oficial

Wolff teve uma infância difícil devido ao estado de saúde do pai, que esteve muito doente por dez anos antes de morrer, quando o futuro dirigente tinha apenas 15. O envolvimento com o automobilismo começou só mais tarde, por meio de amigos em comum, e Wolff correu atrás do próprio patrocínio para correr, mas logo desistiu da carreira de piloto.

Das pistas, Wolff foi trabalhar em um banco e começou a se aventurar no mundo dos investimentos. Algo que, para ele, foi muito mais desafiador do que entrar no clube dos chefes de equipe.

"Não foi difícil porque há um mundo muito mais difícil do que este aqui, em que você tem de tomar decisões cujas consequências são muito mais graves e eu venho do mundo dos investimentos, que é muito mais duro porque você não sabe quem é o inimigo. Aqui é só brincar com carros de corrida!"

Essa abordagem acabou sendo fundamental para Wolff tirar o máximo do piloto que esteve nos cinco títulos conquistados pela Mercedes na era Toto: Lewis Hamilton. "Com Lewis e vários outros membros da equipe que têm alta performance, é preciso entender o que faz com que eles mantenham esse alto nível", explicou o austríaco.

"Aprendi muito cedo neste cargo que eu não consigo desenhar uma peça aerodinâmica, mas eu posso saber tudo sobre o cara que sabe fazer isso e posso criar condições para que ele renda em seu máximo, posso incentivá-lo da maneira correta e motivá-lo da maneira correta. O meu negócio é entender pessoas e, com Lewis, é fácil, é só não julgar e aceitar que cada um precisa viver um tipo de vida para ser feliz e render. Tinha-se essa ideia que os pilotos tinham que treinar, comer bem, dormir, viver uma vida tranquila em família. Isso não funciona para Lewis. Para ele funciona estar em Los Angeles na noite anterior aos treinos livres. Aceitar isso é fácil."

Wolff tem contrato com a Mercedes até o final do ano que vem, assim como o piloto inglês, e existem boatos de que ele teria sido convidado para substituir Chase Carey, atual chefão da F-1 que deve se aposentar em breve. Mas a posição de acionista da Mercedes pode ser um empecilho. Ou talvez, uma saída, como o próprio dirigente aponta: perguntado se sente falta do mundo dos investimentos, ele diz que sim. "E um dia voltarei. E vou ter curtido os dias que passei aqui."

Curtido e, pelo andar da carruagem, ganhado muito mais que qualquer outro chefe. A Mercedes vem de cinco dobradinhas nas cinco primeiras corridas da temporada e já abriu 96 pontos no mundial de construtores.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do informado anteriormente, a Ferrari somou seis títulos de Mundial de Construtores entre 1999 e 2004, e não sete. O erro foi corrigido.

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