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Caio Vaz superou "vaca bizarra" com ajuda da namorada Isabella Santoni

Caio Vaz, surfista bicampeão mundial de stand up paddle - Divulgação
Caio Vaz, surfista bicampeão mundial de stand up paddle Imagem: Divulgação
do UOL

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

23/05/2019 04h00

Ninguém parece saber o motivo, mas quando um surfista é varrido por uma onda e cai da prancha seus colegas dizem que ele "tomou uma vaca". E quando o surfista carioca Caio Vaz decidiu ir ao arquipélago de Fiji pegar aquela que deveria ser a onda da sua vida, ele se surpreendeu com o tamanho da empreitada. "Eu nunca tinha tomado uma vaca bizarra como aquela."

A "vaca bizarra" começou a se formar em algum ponto no meio do oceano Pacífico e consistia em uma quantidade absurda de água salgada deslocando-se com energia suficiente para arrastar dezenas de tratores, imagine um punhado de surfistas louros, queimados e amantes da natureza. Caio Vaz tinha se abalado ao outro lado do mundo depois que um amigo chamado Gordo avisara que os sites de previsão meteorológica anunciavam um "swell épico", cheio de ondas gigantes, em Fiji nos próximos dias.

Swell, na língua dos surfistas, significa uma série de ondulações na água, e épico significa que essas ondulações decorrentes de uma tempestade em alto mar podem gerar uma descarga de adrenalina inesquecível em quem conseguir se manter de pé sobre elas (mas podem matar quem falhar no meio do caminho).

Rodrigo Koxa - Rafael Alvim - Rafael Alvim
O brasileiro Rodrigo Koxa pega onda gigante (24,4 m) em Nazaré, Portugal
Imagem: Rafael Alvim

Atrás desse swell em Fiji estava também Kelly Slater, a lenda viva do esporte, além de outros caçadores de ondas gigantes. É claro que Caio não podia ficar fora dessa.

Bicampeão mundial na modalidade stand up paddle, o surfista havia se encantado pelas ondas gigantes ainda adolescente, no Havaí, onde costumava ver outros caras desafiarem o limite da sanidade ao se equilibrarem em massas de água em movimento do tamanho de prédios de sete andares. "É uma energia gerada dentro de você que não tem explicação. Aquelas horas que estou dentro do mar, vendo aquelas montanhas, a energia da natureza... Esse sentimento me deixa muito vivo", Caio afirmaria se alguém perguntasse por que ele começou a fazer isso.

É verdade também que muitos surfistas já morreram ao desafiar a fúria do oceano porque afinal de contas as ondas gigantes talvez não tenham sido feitas para você se divertir em cima delas. Mas o dia estava perfeito para a ocasião: o mar agitado, o céu tempestuoso, o swell épico como em um futuro pós-apocalíptico. Com uma prancha nos braços, um colete inflável no peito e uma ideia na cabeça, Caio pegou um barquinho para surfar a onda da sua vida. Uma equipe de filmagem estava a postos para registrar a façanha. Faltou combinar com a onda.

Enquanto a monstruosidade aquática se dobrava sobre si mesma, Caio desequilibrou-se e voou alguns metros no ar antes de tomar um caldo e sumir no oceano. O impacto foi tão grande que ele se sentiu desnorteado. Ainda deu tempo de acionar o mecanismo inflável do colete para que ele pudesse emergir à superfície. Mas como as más notícias não andam sós, na sequência uma segunda onda gigante (a maior do dia) arrebentaria sobre sua cabeça.

Por sorte havia equipes médicas em lanchas de socorro, e o surfista foi rapidamente resgatado para se sentir seguro e calcular o estrago. A força da onda gigante fez músculos da bunda de Caio se deslocarem até oito centímetros perna abaixo, o que lhe causou dores gigantes e uma vontade maior ainda de voltar para casa. Deitado no chão do barco de resgate, ele não conseguia sentir partes da perna e tinha os movimentos limitados. "Será que vou conseguir voltar a andar?", ele se perguntava. "E se eu andar, será que vou conseguir surfar de novo?"

Caio e Isabella - Divulgação - Divulgação
Caio Vaz e Isabella Santoni participam de corrida contra o câncer
Imagem: Divulgação

De volta ao Rio, foi operado, passou dois meses na cadeira de rodas e outro mês de muletas. Depois de sessões de fisioterapia bem-sucedidas, começou a pensar em cair no mar outra vez. Durante a recuperação, contou com o apoio fundamental da atriz Isabella Santoni, sua namorada, uma moça que se alçou ao estrelato ao protagonizar a novela juvenil "Malhação", em 2014, e que se entregou integralmente ao tratamento de Caio.

"Eu tinha machucado o ombro também, então não conseguia nem empurrar minha cadeira. Ela me levava para todos os lugares, para festas, para passear, tudo para eu não ficar parado em casa. Ela foi incrível", conta o surfista em uma conversa por telefone.

Um dia, Isabella o levou à praia, caiu no mar e deixou o namorado no quiosque tirando fotos dela. "Fiquei amarradão nisso. Ela nunca me deixou ficar para baixo." A vaca de Fiji aconteceu em maio. Em novembro, Caio já estava na China para o campeonato mundial de stand up, sua primeira competição após o acidente. Isabella foi com ele e ficou na praia agitando uma bandeira do Brasil enquanto o namorado deslizava pelas ondas. O surfista ficaria feliz se apenas conseguisse competir bem, mas acabou tirando o terceiro lugar e por muito pouco não se classificou ao Pan-americano de Lima, no Peru.

A história de como ele se recuperou daquela "vaca bizarra" está contada no documentário "Caio Vaz - Dando a Volta Por Cima", que estreia no canal OFF amanhã (24), às 20h. O filme traz depoimentos do surfista, dos pais, do irmão, da namorada e dos amigos. O acidente também foi indicado como uma das piores vacas de 2018 no Big Wave Awards, uma premiação do surfe mundial.

E Caio, que admite sentir medo ao encarar ondas gigantes ("Quem diz que não tem medo está mentindo", ele garante), pretende em breve voltar a Fiji, para, aí sim, se manter de pé sobre as águas que há um ano o engoliram.

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