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Conselheiro que ajudou Galo a sair da DryWorld cobra: "Não há austeridade"

Atlético-MG apresenta dívida maior, e gestão é criticada por conselheiro influente - Bruno Cantini/Atlético-MG
Atlético-MG apresenta dívida maior, e gestão é criticada por conselheiro influente Imagem: Bruno Cantini/Atlético-MG
do UOL

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

26/04/2019 04h00

As contas referentes ao exercício de 2018 do Atlético-MG assustaram Marcio Cadar, membro do Conselho Deliberativo e principal responsável por salvar o clube da DryWorld. Especialista em Gestão de Negócios e Marketing, ele protocolou uma carta solicitando esclarecimentos à diretoria sobre os números do ano passado.

Os questionamentos foram entregues a Sérgio Rodrigues Leonardo, presidente do Conselho Fiscal, e são divididos em sete itens, conforme imagem abaixo. As principais reclamações são sobre aumento do gasto com viagens - que subiram de R$ 3,8 milhões em 2017 para R$ 6,1 milhões em 2018 -, a ausência de transparência da atual gestão e aumento da dívida. (Veja as imagens abaixo)

Carta de Marcio Cadar ao Conselho Fiscal do Atlético-MG - Documento obtido pelo UOL Esporte - Documento obtido pelo UOL Esporte
Imagem: Documento obtido pelo UOL Esporte

Carta de Marcio Cadar ao Conselho Fiscal do Atlético-MG - página 2 - Documento obtido pelo UOL Esporte - Documento obtido pelo UOL Esporte
Imagem: Documento obtido pelo UOL Esporte

Marcio Cadar, CEO do Grupo MBK, recebeu a equipe do UOL Esporte na manhã de ontem em seu escritório e falou sobre o assunto.

"Quando eu vi o balanço do Galo, pela minha profissão, eu não pude deixar de falar nada. A diretoria e o conselho criaram um afastamento muito grande da torcida. Há um abismo enorme. A torcida tem de cobrar, ir atrás. O diretor está lá, tranquilo, a torcida não. A torcida sofre para caramba. O discurso de austeridade não refletia no balanço", declarou em entrevista exclusiva.

Ele não se irritou somente com o aumento da dívida atleticana, que subiu de R$ 576 milhões em 2017 para R$ 652 milhões no ano passado. O dirigente cobra mais transparência da gestão de Sérgio Sette Câmara:

"Comecei a ler o balanço com mais cuidado e achei o balanço muito mal explicado. Mesmo com todos os erros administrativos passados, o balanço do Galo era mais bem dividido em suas rubricas. Eles tinham notas explicativas melhores. O balanço era mais bem dividido em suas rubricas. Quando vi o balanço do Galo, meu sangue ferveu. Vendo despesas de viagens que saem de 3,8 milhões de reais para 6,1 milhões de reais, sendo que o Galo jogou bem menos em 2018 que 2017. Teve um jogo só de Sul-Americana e acabou. Onde que dobrou? Dobrou o quê?", indagou Marcio Cadar.

"O balanço do Galo está cheio de genéricos, são "Outras receitas", "Outras despesas", "Outros daquilo", "Outros disso"... Gente, e são contas relevantes. Contas de valor relevante têm que ser explicadas. Houve um gasto grande na base, de formação de base... Pelo que está lá, gastaram mais na base que no time profissional. OK, isso faz parte do jogo, mas tem que ter uma explicação e uma lógica, porque isso aconteceu e qual a expectativa desse caixa, porque esse dinheiro poderia ser investido no profissional. Todo balanço te conta uma história. Todo balanço te conta mais ou menos como o clube está sendo gerido. Só por essa rubrica de viagens, morreu, não precisa falar nada. Que tipo de rubrica é essa? Só essa pergunta desmontou tudo", acrescentou.

O Conselho Deliberativo do Atlético-MG se reunirá em 29 de abril (segunda-feira) com o intuito de discutir a aprovação das contas de 2018. O indignado conselheiro foi um dos responsáveis por ajudar o Galo a se desvencilhar do contrato com a DryWorld.

"Fui procurado para ajudar a salvar o contrato da DryWorld. Aquele contrato era uma aberração, o Galo foi enganado. As pessoas acreditaram que a DryWorld era uma empresa séria. Ali, percebi que faltava uma tarimba administrativa ao Atlético", relatou Marcio Cadar, que ainda demonstra indignação com a criação de produtos como o GaloCoin e a GaloEnergy:

"Uma coisa que me incomodou muito é que o Atlético começou a lançar produtos que não são ligados a futebol, como Galo Coin, Galo Energy, coisas que desvalorizam. A maneira que essa Galo Coin foi criada nada mais é que um produto de fidelização com um terceiro agente para dividir uma receita que seria apenas do Galo", comentou.

Sobrinho de Emir Cadar, ex-presidente do Conselho Deliberativo, Marcio marcou uma reunião com Plinio Signorini na última terça-feira para discutir as questões referentes às contas do clube e à criação dos produtos Galo Coin e Galo Energy. O encontro, contudo, foi desmarcado depois de o conselheiro expor a sua indignação na internet.

"Eu tinha uma reunião marcada no Galo para o diretor administrativo, o Plinio [Signorini], falar sobre a Galo Coin e iria na maior boa vontade. Eu tinha prometido publicar algumas coisas para o pessoal do Twitter. Depois que postei, me ligaram do Atlético e falaram: "Não precisa aparecer aqui". Ou seja, quando você questiona alguma coisa que acontece no Galo, você é simplesmente bloqueado por todos. O que está acontecendo no Atlético, hoje, é uma péssima gestão", concluiu.

Procurado pela reportagem, o presidente Sergio Sette Câmara não atendeu aos telefonemas realizados na noite de ontem. O mandatário foi o protagonista das críticas realizadas pelo conselheiro que se considera neutro.

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