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Será que agora engrena? Supercopa do Brasil é marcada por percalços

28/02/2019 07h55

O anúncio de que o calendário nacional em 2020 será aberto com a Supercopa do Brasil exigirá da CBF um grande desafio. Previsto para o dia 22 de janeiro do próximo ano, o embate entre os campeões da Copa do Brasil e do Brasileirão do ano anterior tenta, enfim, emplacar, décadas após ser deixado de lado e cair no esquecimento.

Marcadas por formatos diferentes e fiasco de público, o LANCE! recorda como foram as outras duas edições da Supercopa do Brasil de Futebol.

1990: 'MICADA' PELO CALENDÁRIO INCHADO

O tom obscuro marcou a primeira edição da Supercopa do Brasil. Devido ao inchaço no calendário, a CBF optou por uma alternativa inusitada. Como Grêmio e Vasco mediriam forças no Grupo 5 da Copa Libertadores de 1990, quem se saísse melhor nos dois jogos seria declarado o primeiro campeão da competição.

Centroavante do Grêmio naquela edição da Libertadores, Nilson não escondeu sua surpresa ao saber que os duelos valiam título de outro torneio:

- Nunca soube disso! Ninguém da diretoria falava para a gente, desse negócio de Supercopa do Brasil... Nosso clima antes do jogo era de que a gente ia enfrentar uma partida pesada de Libertadores, contra um time muito bom do Vasco na nossa estreia - revelou, ao LANCE!.

Disputado em 14 de março, o jogo de ida (também válido pela primeira rodada da competição continental) começou com 35 minutos de atraso, devido à falta de energia elétrica no Olímpico. Campeão da Copa do Brasil, o Tricolor gaúcho venceu por 2 a 0, com gols de Nilson e Darci:

- Sempre tive muita sorte quando joguei contra o Acácio (goleiro do Vasco na época). Mesmo se perdesse, eu fazia gols nele. E nesse jogo, eu fiz um gol de cabeça, depois de uma jogada do Adilson Heleno. O "Darcizinho", que era nosso ponta, que também estava numa grande fase, fez o outro gol.

Apoiador do Cruz-Maltino naquele ano, Tita também mostrou espanto ao saber que disputara um troféu à parte nos dois jogos da Copa Libertadores com os gremistas:

- Não fazia a menor ideia. Nós estávamos voltados para a Copa Libertadores. Lembro que o Vasco vinha muito animado para a competição, com um time bom, que tinha vencido a Taça Guanabara e era base da Seleção Brasileira, com Bebeto, Bismarck, Acácio... Estes dois jogos com o Grêmio foram muito pesados. Lutamos muito no grupo, mas conseguimos passar para a outra fase (da Libertadores).

Depois de enfrentarem os paraguaios Cerro Porteño e Olimpia no decorrer da primeira fase, Vasco e Grêmio fizeram o jogo de volta (por ambas as competições) em São Januário. Debaixo de muita chuva, o duelo do dia 18 de abril terminou em 0 a 0, deixando a Supercopa do Brasil nas mãos do Tricolor gaúcho.

- É bom eu saber. Tenho mais um título para eu botar no currículo! - diz Nilson.

Curiosamente, a vitória que rendeu a Supercopa do Brasil não foi suficiente para o Tricolor gaúcho seguir na Copa Libertadores: a equipe foi lanterna do Grupo 5, tendo só este triunfo em seis jogos.

1991: NOVO FORMATO, MAS COM FIASCO DE PÚBLICO

A edição de 1991 da Supercopa do Brasil teve um formato bem próximo do que a CBF propõe para a temporada de 2020. Na abertura do ano, em 27 de janeiro, o Morumbi foi palco do duelo entre o campeão brasileiro Corinthians e o Flamengo, que se sagrara campeão da Copa do Brasil de 1990.

Contudo, nem mesmo o confronto entre as duas maiores torcidas do país rendeu grande público: a busca pelo títulos levou 2.706 pagantes ao Morumbi. Segundo o "Jornal dos Sports", o jogo foi afetado pelo feriadão do aniversário de São Paulo (o dia 24 de janeiro ocorreu em uma quinta-feira) e pela chuva que caíra na capital no dia anterior.

Autor do gol do título corintiano, Neto contou como foi o ambiente entre os jogadores às vésperas do jogo decisivo com o Rubro-Negro:

- Na verdade, não tinha na época aquela expectativa tão grande para o título. Tanto é que o jogo foi disputado em janeiro e o estádio estava meio vazio.

Defensor do Flamengo naquela tarde, Rogério também recordou o baixo público:

- A lembrança que eu tenho era de não ter muita gente, de na época ser considerado um torneio com pouca relevância. Além disto, era início de temporada, todos nós estávamos muito sem ritmo.

Neto atribuiu a vitória do Timão à dedicação dos jogadores diante de um Flamengo que já se mostrava bem forte no Morumbi:

- O Flamengo tinha um timaço e a gente, obviamente, queria ganhar deles. Eles tinham praticamente o time que seria campeão brasileiro no ano seguinte.

Rogério detalhou como estava o Fla que, na época, era treinado por Vanderlei Luxemburgo:

- Era um time bem mesclado. Tinha a experiência do Júnior, mas trazia nomes como Zinho, Paulo Nunes, Djalminha, Marcelinho... A gente venceu a Copa do Brasil jogando bem, levando a sério a competição.

O gol da vitória do Corinthians aconteceu aos 25 minutos da etapa final. Giba cruzou da direita e, após falha de Zé Carlos, Neto mandou para a rede.

- Falar do Giba me deixa até emocionado, porque foi um amigo que se foi muito cedo. Era um cara de grupo e tinha o respeito de todos. Um baita lateral que se jogasse hoje estaria fácil em algum clube grande da Europa - recordou o então camisa 10 corintiano.

O craque da equipe que tinha sido campeã brasileira de 1990 contou o que pesou para o triunfo sobre o Flamengo no Morumbi:

- Foi a raça e a entrega que todos tinham. Tecnicamente, a maioria tinha até suas limitações, mas não faltava vontade pra ninguém.

EX-ATLETAS EXALTAM SUPERCOPA DO BRASIL, MAS COM RESSALVAS

A iniciativa da CBF em promover a volta da Supercopa do Brasil foi valorizada por jogadores que disputaram as edições anteriores. Aos olhos de Nilson, a competição é uma forma de estender a competição entre os vencedores da Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro. No entanto, o ex-centroavante deixa um alerta à entidade.

- Eu acho legal, para haver uma rivalidade entre os clubes. Mas o único problema é a questão de calendário. A gente vê no início do ano que os jogadores não estão preparados fisicamente depois de 20, 25 dias de pré-temporada. Muito jogador tem chance de estar sem ritmo adequado - diz o campeão da Supercopa do Brasil de 1990.

Vencedor da Supercopa do Brasil de 1991, Neto espera que a competição engrene de vez no futebol nacional:

- Ah, eu acho legal. Poxa, já existe essa disputa nas principais ligas. Só aqui não tinha. Espero que engrene. Eu guardo com carinho na minha memória o título.

Tita também mostra otimismo com a entrada da Supercopa do Brasil no calendário:

- Faltava no Brasil termos um tira-teima entre o campeão brasileiro e o campeão da Copa do Brasil. Isto vai dar muito ânimo para os torcedores e, sem dúvida, para os jogadores também.

Rogério também mostra expectativa quanto à competição. Porém, diz que ela só emplacará se for bem planejada:

- A Supercopa do Brasil tem que ser bem divulgada, jogada em um lugar bem atrativo. Acredito que no início seja difícil de cair nas graças da torcida. Mas, aos poucos, com um lugar planejado com antecedência, a competição tem tudo para fazer parte de vez do calendário brasileiro.

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