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Luiz Gomes: 'Trapalhadas mais uma vez em torneios da Conmebol'

24/02/2019 08h35

A pretensão da atual diretoria da Conmebol de globalizar o futebol do continente tornando a Libertadores um torneio atraente para além do Oceano Atlântico cada vez parece mais distante de ser realizada. E o principal obstáculo para isso não vem da concorrência óbvia e direta de competições muito mais valorizadas internacionalmente como a Champions League ou alguns dos campeonatos europeus. A Conmebol, na verdade, tropeça é nas próprias pernas.

Menos de três meses depois da vergonhosa final da Libertadores, disputada em Madrid por absoluta falta de competência em gerir a crise criada pelo entrevero entre o Boca e o River, o futebol sul-americano está de novo envolvido em uma situação surrealesca: 21 clubes denunciados por terem jogadores inscritos irregularmente, fora dos prazos determinados, tanto na Libertadores como na Copa Sul-Americana. Trata-se de um prato cheio para que, mais uma vez, os rumos das principais disputas da América sejam decididos não no campo, mas em idas e vindas no tapetão.

Vejam que não estamos falando de casos isolados, como os que abateram a Chapecoense em 2017 e o Santos no ano passado, ambos eliminados ao serem punidos por escalar atletas sem condições, o que lhes custou os pontos conquistados nos gramados. Estamos assistindo a nada menos do que 21 clubes de quatro países envolvidos no mesmo imbróglio. Oito deles brasileiros - o já eliminado São Paulo e o Atlético-MG na Libertadores, Corinthians, Botafogo, Fluminense, Bahia, Chapecoense e Santos na Sul-Americana.

Quando uma situação dessas acontece é claro que algo está errado. Não se admite que haja um surto de incompetência coletiva dos clubes, ainda que se saiba o quanto amadoras são as gestões dessas entidades aqui e ainda mais nos países vizinhos. Admitindo-se que não haja má fé - tudo é possível em se tratando de Conmebol até mesmo aquela história de criar dificuldades para negociar facilidades -, há evidentes erros de processo, exigências além do aceitável e prazos mal esclarecidos que precisam ser remodelados. No mínimo há problemas de comunicação entre a entidade, as federações e os clubes. E tudo precisa ser sanado para que a credibilidade da Libertadores e da Sula se restabeleça e a bola rolando seja o único fator a interferir nas tabelas de classificação.

Vale destacar - e isso é uma particularidade brasileira - a forma omissa como mais uma vez age a CBF em detrimento dos nossos clubes. Os herdeiros da dinastia Teixeira-Marin-Del Nero, encastelados na sede da entidade na Barra da Tijuca, demoraram três dias para se manifestar e trataram de culpar o sistema Comet, que pode ter falhado "durante a realização de uma das etapas de homologação de processo". Postura bem diferente da federação chilena, por exemplo, que, desde a primeira hora, quando o caso veio à tona, assumiu os erros de registro, numa forma de proteger Universidad de Chile, Palestino, Colo-Colo, Antofagasta, Unión La Calera e Unión Española, dos questionamentos da Conmebol. É o mínimo de compromisso que se espera de uma confederação nacional.

A nota da Conmebol sobre o assunto foi simplesmente patética, como aliás tudo o que se faz ali. A entidade disse que o caso foi encaminhado para análise de seu Tribunal Disciplinar e que os clubes podem ser punidos - em tese, até com a eliminação dos torneios. Destaca ainda que, enquanto uma decisão não for tomada, tudo segue normalmente. É pura falastrice esse negócio de tribunal. Muito mais do que suas próprias regras, determinações, portarias ou resoluções, o jogo político é o que sempre comandou os julgamentos da Conmebol, onde sempre prevaleceu a máxima invertida de que nem todos são iguais perante a lei, não raramente alimentada por interesses inconfessáveis.

Assim, se o seu time é um dos oito que está na lista da Conmebol, seja na Libertadores ou na Sul-Americana, torça, pois isso vale a pena, acredite no que rola no campo, mas sempre desconfiando. Campeonatos que começam dessa forma, sob o signo da trapalhada e a égide dos tribunais, têm tudo para acabar do mesmo jeito. Ou de ter um desfecho ainda pior.

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