Falamos com Edson Souza: 'Tenho um estilo parecido com o do Valentim'
O Resende volta a ser protagonista na Taça Guanabara, dez anos depois de ter eliminado o Flamengo e perdido a final contra o Botafogo, em 2009. Ao chegar ao Maracanã para disputar uma das semifinais da Taça Guanabara, contra o Vasco, nesta quarta-feira, o técnico do Resende, Edson Souza, estará vivendo, nas palavras dele, o "auge da carreira como treinador". Com quase doze anos de profissão e dois título de Taça Rio no currículo, ele revelou que a inspiração para o bom trabalho vem de ninguém menos que o treinador rival, Alberto Valentim. Edson se identifica com o estilo inquieto do comandante vascaíno na forma de desenvolver o trabalho que resultou na boa campanha da equipe do interior, que tem cinco vitórias, dois empates e apenas uma derrota, para Boavista, por 2 a 1.
Em entrevista exclusiva ao LANCE!, Edson Souza abriu o jogo e afirmou que o Resende não vai se intimidar com os 100% de aproveitamento do adversário e vai em busca da final. Ele também avaliou como acertada a decisão da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) de adiar a partida, após o trágico incêndio no Ninho do Urubu, na última sexta-feira.
Confira a íntegra da entrevista:
O Resende chega à semifinal da Taça Guanabara com uma boa campanha, em que arrancou um empate em 1 a 1 com o Flamengo e derrotou o Botafogo por 1 a 0, no Estádio Nilton Santos. Qual foi o segredo deste time?
Na vida as oportunidades aparecem e temos que aproveitá-las. Jamais o meu discurso para os jogadores foi que tínhamos que buscar a semifinal.Sempre falei para eles que primeiro tínhamos que passar pela Seletiva e depois alcançar o maior número de pontos possíveis no campeonato e assim ter tranquilidade. Já passei por isso com o Nova Iguaçu. Quando você não atinge uma pontuação boa, o segundo turno é um desespero. Dessa maneira como fizemos, as coisas chegaram naturalmente. Nosso pensamento sempre é jogo a jogo. Graças a Deus conseguimos os pontos para a semifinal, o que no dá uma garantia para o segundo turno. Agora é desfrutar esse momento, essa boa oportunidade para todos.
Como o time encara esse duelo com o Vasco? Como estão sendo os preparativos para este grande jogo?
É um grande desafio e uma grande oportunidade, não só para o clube, mas individualmente para todos. Tanto os jogadores como eu, buscamos reconhecimento. A preparação vem sendo feita da mesma forma, mas com uma expectativa muito maior. Tudo tem um bônus e um ônus. A cobrança é saudável. Atingimos essa situação por competência nossa e temos chance. Vamos buscar chegar na final.
A disputa da Seletiva fez a diferença para a boa campanha do Resende? O fato do time já estar jogando e treinando desde outubro foi um diferencial?
Com certeza, a Seletiva fez toda a diferença. É uma competição dolorosa e estressante, mas quem consegue passar por ela tem uma vantagem na frente. É muita adrenalina e demanda um nível muito alto de concentração, então quando você chega na elite, já entra em uma batida mais forte, com mais entrosamento e ritmo de jogo do que as equipes que iniciaram a pré-temporada depois. O Futebol não tem fórmula, mas, neste caso, posso dizer que sim, fez diferença.
O fato do jogo contra o Vasco ser no Maracanã e não em São Januário, a casa do Vasco, favorece a equipe do Resende?
Para alguns jogadores, jogar no Maracanã é, de fato, uma realização. Para mim, que já fui jogador e agora sou treinador o campo não importa. Já ganhei em São Januário, no Maracanã e em outros campos. É claro que o Maracanã tem um calor especial. Mas dentro de campo o que conta é a bola rolando nos 90 minutos. Chegamos aqui por competência e vamos aproveitar essa oportunidade para tentar chegar na final.
Você teve uma passagem pelo Vasco como jogador em 1992. Como é voltar a enfrentar um ex-clube agora como treinador?
Joguei no Vasco de 1992 com Luisinho, William, Geovani, Roberto Dinamite, Bismarck e outros nomes consagrados. Mas minha história maior como jogador é no Fluminense, onde joguei por seis anos. Considero que fui um bom profissional e sou querido por todos, então é sempre uma satisfação reencontrar as pessoas e receber um abraço carinhoso, isso de fato mexe comigo. Sou muito emotivo. Sabemos quando um sorriso é sincero. Profissionalmente, encaro como mais uma experiência de sobrevivência. O futebol é uma eterna guerra, sempre estamos disputando alguma coisa e neste caso não será diferente.
Você pode dizer que a disputa dessa semifinal com o Vasco é o auge da sua carreira como treinador?
Trabalho há 12 anos como treinador. Em minha carreira tenho sete títulos, sendo dois títulos da Copa Rio, mas posso sim dizer que esse é o meu auge na carreira. No futebol sempre vamos galgando coisas a mais. Como disse, é uma oportunidade para todos serem vistos, terem o trabalho individual reconhecido. Chegar a uma semifinal contra um time grande é uma realização, que nos permite pensar em coisas maiores.
O Vasco está invicto, com 100% de aproveitamento no Campeonato. Como o Resende encara esse fato?
Isso não nos intimida. O futebol é a nossa vida. Perdemos um jogo de 2 a 1 para o Boavista, mesmo jogando melhor. Hoje poderíamos estar invictos. Foi importante porque aprendemos com nossos erros nessa derrota. Vimos que no futebol é preciso ter eficiência quando se chega na cara do gol, aproveitar as oportunidades criadas, não basta jogar bem. Encarar o Vasco para nós já é uma realização. Tenho certeza que vai ser um jogo muito pegado, de muita intensidade. E nós vamos buscar chegar a final, pois chegamos aqui por competência nossa.
Quem são as suas inspirações no futebol? Se inspira em algum treinador brasileiro?
Fiz o curso de treinadores da CBF com o Alberto Valentim e me identifico muito com o jeito inquieto dele. Nós temos estilos parecidos, de estar sempre à beira do campo orientando, gritando e de exigir um futebol jogado com intensidade. Sou muito parecido com ele nisso. Tenho certeza que vai ser um jogo muito pegado, de alta intensidade.
O que você achou da decisão da Ferj de adiar a partida em razão do trágico incêndio no Ninho do Urubu?
Foi lamentável e doloroso o que houve no Ninho do Urubu. É impossível passar ileso, especialmente pra gente que trabalha no futebol. Passei quase 25 anos como jogador em viagens, CTs, concentrações, e sei bem como é isso. Fico imaginando como estão se sentindo os familiares, amigos e os atletas que eram companheiros deles no clube. Sinceramente, até este final de semana, estava muito difícil a gente pensar em futebol. A decisão de adiar o jogo foi acertadíssima, pois não havia clima para este jogo. A dor é grande, mas a vida tem que continuar. Que Deus possa confortar as famílias.
*Estagiária, sob a supervisão de David Nascimento