As escolhas que fizeram o São Paulo chegar ao 'jogo do ano' como incógnita
Ainda estamos em fevereiro, é só o sétimo compromisso oficial de 2019, mas o São Paulo já fará o seu "jogo do ano" às 21h30 desta quarta-feira, no Morumbi, contra o Talleres (ARG). Derrotado por 2 a 0 na Argentina, o Tricolor precisa virar para não comprometer todo o seu planejamento e para dar paz a André Jardine, que corre risco de demissão em caso de fracasso.
Antes de qualquer coisa: Jardine não é um vilão. Foi efetivado por Raí no fim do ano passado por ter se mostrado muito competente em seu trabalho na base e como auxiliar do profissional. Aconteça o que acontecer nesta noite, continuará sendo um nome promissor. Mas a opção por bancá-lo em momento tão delicado do clube, todos sabem, carregava alguns perigos.
O caminho que o gaúcho de 39 anos escolheu percorrer no São Paulo (e na carreira) não é o caminho errado. É maravilhoso quando uma equipe pensa em agredir o adversário antes de buscar formas de neutralizá-lo. Só que essas equipes não ficam prontas em 40 dias - e geralmente funcionam melhor quando têm mais opções de velocidade do que as oferecidas pelo elenco tricolor.
Costuma ser mais rápido trabalhar times a partir da defesa: deixar de sofrer gols e, depois, se preocupar com o ataque. Há menos de um ano, no mesmo São Paulo, Diego Aguirre mostrava que este é o percurso mais curto para começar a obter resultados. Jardine optou pelo mais longo.
De novo, não é uma escolha errada. Mas o São Paulo sabia, desde o fim de 2018, que precisaria ter um time competitivo já em fevereiro se não quisesse passar vergonha na Libertadores. O clube precisava de atalhos, não de longas distâncias a percorrer.
Há ainda um óbvio agravante: o são-paulino está desesperado por taças, comemorou só uma nos últimos dez anos. A elogiável busca pela construção de uma ideia de jogo como base de todo o trabalho combina mais com um clube estável, algo que o São Paulo não tem sido.
Então este contexto todo obrigava o clube a buscar um treinador que goste mais de defender do que de atacar? Não. Cuca e Abel Braga, por exemplo, não são reconhecidos exatamente pelas retrancas que montaram. Mas conhecem os tais atalhos.
Jardine falou, desde que assumiu como interino, em moldar um time "protagonista". Mas nos dois maiores testes de 2019 até o momento - um clássico e um jogo de mata-mata de Libertadores, ambos fora de casa -, o Tricolor tentou ser um time mais preocupado em defender. E falhou. Tomou gol de bola parada, de contra-ataque, de segunda bola... A defesa não está sólida.
Quando tentou impor a sua identidade e propor o jogo, o São Paulo também falhou. Abusou dos cruzamentos ineficazes contra o Guarani e perdeu por 1 a 0. Contra a Ponte, nem cruzamento conseguiu fazer e perdeu novamente por 1 a 0.
O São Paulo, que hoje tem obrigação de fazer gols, não se mostrou preparado para agredir e também vacilou quando tentou ser defensivo. É por isso que o trabalho de Jardine gera questionamentos internos. Os questionamentos da torcida, com dez anos de sofrimento, viriam sim ou sim.
Em resumo: o jogo que o São Paulo apresentará contra o Talleres é uma incógnita (inclusive os 11 titulares, que não estão consolidados após uma série de testes). Será um time de cruzamentos? Será um time de infiltração pelo meio? Não se sabe. O que se sabe é que terá de ser a melhor versão do ano.
E depois do jogo, passando ou não, ficará o questionamento: interromper o trabalho de André Jardine e atestar que foi um erro optar pelo caminho mais longo neste momento ou mostrar convicção na escolha e tentar mostrar a todos que, pelo contrário, este é o cara certo para fazer o profissional do São Paulo vencedor e encantador novamente, como a base tem sido.