Desinformação, força complementar dos exercícios militares chineses ao redor de Taiwan
Taiwan viveu uma onda de desinformação digital no período dos exercícios militares da China ao redor da ilha, com o objetivo de minar as credenciais democráticas do território e promover a versão de Pequim.
O governo chinês, que considera Taiwan uma ilha rebelde, reagiu com fúria à visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, a Taipé no início do mês.
Em resposta, o exército chinês executou manobras militares em larga escala, com aviões, mísseis e navios de guerra ao redor da ilha. Uma forma de protesto, a dos exercícios militares, que a China repetiu nesta segunda-feira por ocasião da visita de cinco congressistas americanos à ilha autônoma.
No caso da visita de Pelosi, durante os exercícios, as redes sociais foram dominadas por informações falsas sobre a política americana e seus anfitriões taiwaneses.
Charles Yeh, diretor de redação do portal taiwanês de verificação MyGoPen, disse que a maior parte da desinformação detectada mencionava a ideia de que a ilha deveria "render-se" à China.
"Além dos exercícios militares, a China também iniciou ofensivas no mundo digital, na forma de ciberataques e desinformação", explicou Yeh.
No momento em que milhões de pessoas acompanhavam uma transmissão ao vivo no Weibo - o equivalente chinês do Twitter - sobre o pouso de Pelosi em Taiwan, várias mensagens publicadas afirmavam, sem qualquer fundamento, que o avião da congressista americana teve que retornar porque ela havia passado mal com o calor.
Alguns chineses também a insultaram e chamaram de "velha louca" e questionaram por quê foi autorizada a evitar as normas taiwanesas anticovid, como a quarentena.
Perguntada sobre o tema durante a viagem, Pelosi respondeu: "Imagino que tenham feito muito barulho porque sou a presidente da Câmara de Representantes. Não sei se isto é um motivo ou uma desculpa, porque não falaram nada quando os homens desembarcaram aqui", disse, em referência às visitas prévias de políticos americanos.
- Detida por tentar "desestabilizar Taiwan" -
Autoridades da área de Defesa de Taiwan afirmaram que identificaram 270 afirmações "falsas" na internet nas últimas semanas.
Em um caso, a polícia prendeu uma mulher acusada de compartilhar uma mensagem falsa no aplicativo LINE em que afirmava que Pequim havia decidido retirar os cidadãos chineses de Taiwan.
Um porta-voz da polícia disse que mulher estava tentando "desestabilizar Taiwan".
Outra mensagem muito divulgada foi um texto supostamente publicado pela agência oficial chinesa Xinhua que afirmava, de maneira equivocada, que a China "recuperaria a soberania" sobre Taiwan em 15 de agosto.
A mensagem, vista mais de 356.000 vezes no TikTok, aplicativo de propriedade chinesa, afirmava que o exército de Taiwan seria desmantelado e um político de oposição assumiria como governador. A mesma afirmação falsa circulou no Facebook.
A equipe de fact-check da AFP não encontrou provas de que a agência estatal chinesa Xinhua tenha publicado o texto.
Taiwan é uma das democracias mais tolerantes da Ásia e tem um cenário de imprensa muito mais livre que a China continental, sob governo comunista e que tem uma censura estatal muito rigorosa.
rhb-jli/jfx/avl/zm/fp
© Agence France-Presse
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