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'Só tive medo no mar uma vez. Achei que ia morrer' diz surfista Tati Weston

Tatiana Weston-Webb pode ser a primeira campeã mundial brasileira de surfe  - Reprodução/Instagram
Tatiana Weston-Webb pode ser a primeira campeã mundial brasileira de surfe Imagem: Reprodução/Instagram
do UOL

De Universa, São Paulo

13/08/2022 04h00

"Eu já fiquei com medo várias vezes dentro da água". Tatiana Weston-Webb é a única brasileira no WSL (World Surf League) em 2022 e tem chances de ser a primeira mulher do país a levantar o título de campeã mundial do surfe. E o fato de enfrentar grandes ondas não faz com que ela perca o medo do mar.

"No começo desse ano, eu achei que ia morrer sozinha em Sunset Beach, no Havaí. Estava acabando de nascer o sol, e tinha quase ninguém na água e eu estava tomando várias ondas na cabeça e achei que não ia conseguir sair da água, mas foi a única vez. Tem que ter muita coragem nesses dias, mas você nunca pensa que vai passar por isso", disse Tatiana em entrevista a Universa após a etapa de J-Bay do WSL.

Na pausa entre as etapas do campeonato mundial, onde as surfistas acumulam pontos a cada etapa e as cinco melhores se classificam para a final, a atleta conversou com a gente sobre sua carreira e a possibilidade de levantar a taça de campeã em setembro. Até agora, Tatiana conseguiu um feito inédito em sua carreira: em julho, ganhou duas etapas: a de Peniche, em Portugal, e a de Jeffreys Bay, na África do Sul. Se ganhar a etapa que começou nesta quinta-feira (11) no Tahiti, bate mais um recorde brasileiro e se classifica para a final, que acontecerá entre 8 a 16 de setembro em Trestles, na Califórnia.

A possibilidade de levantar a taça do mundial de surfe feminino pelo Brasil não é brincadeira - seria algo inédito para a história do esporte no país. Realizado desde 1964, a América do Sul tem apenas um título: o de 2004 com a peruana Sofia Mulanovich. Agora, 18 anos depois, Tatiana luta para levantar o troféu de campeã mundial. "O meu objetivo é ganhar o mundial. Acredito que possa ser, sim, a primeira campeã brasileira. Mas, claro, tenho que trabalhar duro para isso. Tenho grandes chances e vou me esforçar para melhorar a cada dia", diz Tatiana entrevista a Universa.

Com a grande quantidade de viagens e nos longos períodos fora de casa, é preciso encontrar apoio nas pessoas ao seu redor. Ela tem casa no Havaí, mas também passa períodos no Brasil quando não está competindo. Tatiana nasceu em Porto Alegre, mas com poucos meses de vida se mudou com a família para Kauai, no Havaí. Os pais dela também eram praticantes do esporte. A sororidade durante as etapas do campeonato mundial rola solta, segundo Tatiana. "Temos respeito com todo mundo. Nunca brigamos. Acabamos ficando amigas mesmo", diz. Tati é mais próxima, segundo ela, da surfista francesa Johanne Defay.

Força do surfe feminino

Tatiana Weston-Webb comemora vitória em J-Bay, na África do Sul - Beatriz Ryder/World Surf League - Beatriz Ryder/World Surf League
Tatiana Weston-Webb comemora vitória em J-Bay, na África do Sul
Imagem: Beatriz Ryder/World Surf League

O surfe é um dos primeiros esportes do mundo a equiparar as premiações entre homens e mulheres. O que não muda o fato de atletas de nome, como Gabriel Medina e Ítalo Ferreira, o primeiro medalhista olímpico de surfe do Brasil, sigam sendo inspiração - inclusive para a nova geração de meninas.

"Gabriel, Italo e Filipe [Toledo] estão sempre inspirando as meninas a chegarem no topo e dominarem o esporte como eles. A nova geração, como Sophia Medina, de 17 anos, irmã do Gabriel, que já participa de campeonatos para entrar no circuito mundial, Bela Nalu, 14, que já ganhou o Rip Curl Grom Search nas categorias sub-14 e sub-16, e Laura Raupp, 15, que é vice-campeã Sul Americana e Brasileira Pro Junior 2021, estão vendo como os homens estão carregando a bandeira do Brasil. Elas estão muito animadas com os resultados e querem chegar no topo e dominar no lado feminino também", diz Tatiana.

A brasileira que chegou mais perto de trazer esse título para o Brasil foi a surfista Silvana Lima, que por duas vezes foi vice-campeã do torneio. Silvana segue enfrentando as ondas, mas dessa vez, não está na disputa pelo mundial. Mas não deixa de ser uma grande inspiração para as mulheres surfistas, inclusive, como Tatiana. "Quando eu era criança, com 14 e 13 anos, ela me inspirou bastante. Foi a primeira mulher a mandar fazer uma manobra aérea, com salto, dentro da água. Todas queriam fazer isso por causa dela", conta.

Pressão estética

Entrar no mar significa biquíni ou, no mínimo, roupas apertadas. E apesar de vivermos em uma sociedade cada vez mais livre, o corpo da mulher ainda é um grande alvo de julgamentos, o que faz essa exposição deixar muitas inseguras na hora de curtir a praia - uma opção que as surfistas não têm.

O perfil do Instagram de Tatiana é cheio de fotos dela na praia e no mar, consequentemente usando roupas de banho. Entre os muitos comentários positivos, lê-se um que questionava se ela era homem ou mulher. Mas essa pressão do corpo perfeito não afeta a Tatiana. Para ela, o que melhora a sua autoestima é fazer exercícios, algo que como atleta é parte de sua rotina.

"Surfar eleva minha autoestima. Uso biquíni porque acho bonito e me sinto bem. Mas não posso falar isso de todas, algumas entram na água de short e roupa de borracha, não mostram muito o corpo, não. Depende da pessoa", diz.

De olho em Paris 2024

Nas Olimpíadas de Tóquio, Tatiana não alcançou o objetivo desejado. Ela acabou deixando a competição nas oitavas de final. E mesmo o resultado, digamos, negativo, atraiu ainda mais a atenção do público para o esporte - e para ela.

"Com a estreia do surfe nas Olimpíadas de Tóquio, foi notável o aumento no interesse do público em acompanhar as competições. Acho natural a curiosidade das pessoas em saber mais sobre os surfistas que estão representando o seu país. É muito bom para nós atletas poder sentir esse crescimento. Sentimos o apoio e essa energia é muito importante", diz Tatiana. Ela também diz que é muito legal que haja um aumento de fãs torcendo especificamente para ela.

Em 2024, as Olimpíadas acontecem em Paris, na França. Contudo, as competições de surf vão acontecer a cerca de 16 mil quilômetros da capital francesa. O local escolhido para os surfistas demonstrarem suas habilidades é Teahupo'o, no Taiti. A escolha se deu ao fato de se tratar de uma ilha na polinésia francesa, o que garante a ligação com o país sede dos jogos.

E mesmo com dois anos ainda no calendário, os treinos para o próximo ciclo olímpico já estão com tudo. "Estou me preparando bastante, porque será um tipo de onda bem difícil. Estamos focando muito na estratégia para chegar no topo na competição".

Errata: este conteúdo foi atualizado
Tatiana ganhou a etapa de Peniche, em Portugal, não a de Saquarema, no Rio de Janeiro.

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