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Violência, prisão, abuso: série de Mike Tyson evita foco em herói ou vilão

Trevante Rhodes como Mike Tyson na nova série "Mike - Além de Tyson" - Divulgação/Star+
Trevante Rhodes como Mike Tyson na nova série "Mike - Além de Tyson" Imagem: Divulgação/Star+
do UOL

De Splash, em São Paulo

08/08/2022 04h00

Para os produtores executivos de "Mike", contar a história do boxeador é falar sobre uma das figuras mais complexas e polarizantes de todos os tempos. Uma vez um dos homens mais famosos do planeta, Tyson superou todas as expectativas, tornou-se o campeão de peso-pesado mais novo do mundo para, seis anos depois, ser preso por estupro.

Agora, sua história ganha uma versão ficcionalizada na série do Star+ "Mike: Além de Tyson", que estreia no próximo dia 25 de agosto. Construído com base em pesquisas, entrevistas e imagens de arquivo de eventos reais, o drama não-autorizado se define como uma análise sobre violência, racismo e o impacto dos holofotes para além da vida do pugilista.

Com Trevante Rhodes ("Moonlight - Sob a Luz do Luar", "Bird Box") no papel do protagonista, a série se inicia na infância de Mike, e não poupa relatos e históricos complexos: visões de abuso doméstico, agressões, bullying e roubo estão na rotina do pequeno Mike, crescendo em Nova York durante a década de 1970. Sua ascensão dentro do esporte, dentro da ótica da série, cresce junto a hábitos violentos que acabam sendo razões diretas de seus muitos altos e baixos.

Série não-autorizada

Para o criador da série Steven Rogers e a produtora executiva Karin Gist, é justamente em razão da complexidade da história de Mike que a série não deve se limitar a uma visão singular de vilão ou herói. "Pedimos para que os espectadores examinem essa vida tão única, complexa e contraditória e decidam por si mesmos o que pensar e sentir", afirma a dupla, em carta enviada à imprensa.

Chegar até este lugar passou por um longo processo de pesquisa da vida de Mike e de tudo em seu entorno. Quando soube do desenvolvimento da atração, o boxeador que hoje tem 56 anos não gostou da ideia, mas isso não chegou a ser um problema para os criadores.

"Não conseguimos conversar com ele, mas espero que, caso assista, ele mude de opinião", confessa Rogers. "Como escritor, eu não gosto de basear minhas histórias em uma únca fonte, gosto de pesquisar e ter múltiplas opiniões", continua, justificando por que consultar Mike e fazer um drama autorizado não seria tão interessante. "Temos uma história melhor dessa forma."

"O que nós queríamos era contar a história não apenas da vida dele, mas de todo aquele contexto. Queríamos falar do mundo naquela época, sobre a visão que temos de etnia, dos desafios enfrentados por um homem negro. Por isso, esperamos abrir a porta para outras conversas."

Trevante: quando estamos contando uma história, de um ponto de vista criativo, é mais interessante quando a contamos de vários pontos de vista variados.

O que a série traz de novo?

Mike Além de Tyson - Star+/Divulgação - Star+/Divulgação
Mike: Além de Tyson estreia no Star+
Imagem: Star+/Divulgação

Além dos traços de violência na vida de Tyson fora dos ringues, das passagens pelo sistema prisional e da relação turbulenta com as mulheres de sua vida (incluindo a acusação de estupro feita por Desiree Washington em 1991), a série olha para o entorno de Mike para questionar como o contexto em que ele cresceu ajudou a transformá-lo em uma figura tão polêmica.

"Eu achava que a história era um alerta sobre o sonho americano, mas você pode ir para qualquer lugar do planeta e dizer as palavras 'Mike Tyson' que você verá uma reação", afirma Rogers. "Então, para mim, é uma história universal que fascina há 35 anos. Não queremos contar o que aconteceu, mas ir nos bastidores disso e perguntar por quê."

O produtor, que também trabalhou no filme "Eu, Tonya" (2017), estrelado por Margot Robbie, conta a história que o fez querer entender mais sobre Tyson.

"Em uma das minhas primeiras pesquisas, eu vi um vídeo em que ele falava por que fez a tatuagem no rosto. E na época aquilo era usado como piada em talk shows, mas eu nunca me perguntei o porquê. E ele falava que fez a tatuagem porque não gostava de si mesmo e não queria ver o próprio rosto no espelho. Eu fiquei fascinado com aquilo, e quis mergulhar fundo. Eu gosto de pegar uma história que todos acham que conhecem e revelar que na verdade tem mais coisa."

Mesmo assim, não é por isso que existe uma única verdade ao longo dos oito episódios.

"Redenção nunca foi o propósito", continua Gist. "Queremos desafiar o que as pessoas acham que sabem sobre ele, não importa se o julgam herói ou vilão. Queremos que as pessoas questionem se a sociedade tem uma parcela de responsabilidade por tudo o que aconteceu."

Como interpretar Mike Tyson

Nova série de Mike Tyson evita olhar para o pugilista como herói ou vilão - Star+/Divulgação - Star+/Divulgação
Nova série de Mike Tyson evita olhar para o pugilista como herói ou vilão
Imagem: Star+/Divulgação

Aos 32 anos, Trevante Rhondes encara com seriedade a missão de interpretar Mike Tyson. Embora não-autorizada, o ator não tem medo de sofrer algum tipo de represália do pugilista caso este o veja no papel.

"Para mim, interpretá-lo é um processo espiritual. Me amparei no texto e também no que eu sinto", conta. "Mike é uma figura tão presente, e ele sempre nos dá pedacinhos de informações sobre a vida dele aqui e ali. Por isso, meu processo foi apenas entrar em quem ele realmente é. Sou muito seletivo com os meus projetos audiovisuais, e Mike está ocupando um espaço importante na minha vida."

Campeão de atletismo antes de migrar para a atuação, Rhodes conta que, direta ou indiretamente, sempre teve Mike como inspiração.

"Na infância, quando estava crescendo, eu não era fã dele, pelo menos não tanto quanto o aprecio agora", admite. "Mas ele era um dos meus espíritos animais, uma das figuras para quem eu olhava para saber como me portar na vida, e especialmente dentro do esporte. Então, agora, ter a oportunidade de viver no espírito dele foi uma experiência fantástica."

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