Topo
Entretenimento

Marca de lingerie para corpos reais usa fotos sem filtro e fatura R$ 1 mi

Camila Reginato, 32 anos, fundadora da Frida Underwear, rede de franquias de lingeries com foco na diversidade de corpos - Divulgação
Camila Reginato, 32 anos, fundadora da Frida Underwear, rede de franquias de lingeries com foco na diversidade de corpos Imagem: Divulgação
do UOL

Caroline Marino

Colaboração para Universa, de São Paulo

08/08/2022 04h00

Empreender foi a forma que a gaúcha Camila Reginato, 32 anos, fundadora da Frida Underwear, rede de franquias de lingeries com foco na diversidade de corpos, encontrou para crescer profissionalmente fora do ambiente da publicidade. "Trabalhava em agência e, aos 25 anos, percebi que não tinha muita chance de me desenvolver por causa de uma cultura machista. Via os homens sendo valorizados e as mulheres, não", conta.

Em vez de tentar mudar esse mercado, Camila decidiu mudar a si mesma. Foi então que abriu uma agência na garagem de sua casa, usando o networking para encontrar parceiros. Em paralelo, para aprender mais sobre gestão, começou a cursar pós-graduação em negócios digitais e foi lá que a ideia de criar a Frida surgiu. "Tínhamos de desenvolver uma empresa inovadora e, pesquisando o mercado e entrevistando o público feminino, percebi que a maioria das mulheres não se sentia representada com os corpos mostrados em campanhas —na época, havia pouca representatividade nos produtos das marcas de lingerie", diz.

De acordo com Camila, a empresa surgiu para quebrar a ditadura de corpos perfeitos. Assim, além de oferecer peças bonitas para todos os biotipos, o negócio aposta na divulgação dos produtos com mulheres reais, sem manipulação no Photoshop.

A empresa começou as atividades em 2017 como um e-commerce e se tornou franquia em 2020. Hoje, há 35 operações no modelo home based (baseado em casa, em tradução livre) e, em 2021, o faturamento foi de R$ 1 milhão. Para este ano, com a perspectiva de abrir lojas físicas, o negócio deve crescer significativamente, alcançando R$ 10 milhões de receita. Recentemente, a Frida começou a operar na Suécia no formato home office e já há planos de ir para Espanha e Inglaterra.

Capacitações e networking abrem portas

No processo de criação da marca, Camila ressalta que precisou estudar muito. "As mulheres não foram ensinadas a empreender e tive de aprender tudo sobre estruturação de um negócio", diz. Além de realizar cursos, como o Empretec, no Sebrae, que é focado em empreendedorismo, e um mestrado em gestão de negócios internacionais, a empresária ressalta que a rede de contatos foi fundamental. "No mesmo espaço da agência, abri um coworking, onde hoje é a sede da empresa. E a troca com outros profissionais foi essencial", afirma. Dessas relações surgiu, inclusive, uma sociedade. Felipe Wichmann, um de seus clientes, se tornou sócio da empresa.

Depois de uma conversa com outro cliente que era franqueador, veio a ideia de transformar a Frida em uma rede de franquias. Como o período coincidiu com o início da pandemia da covid, Camila estruturou a expansão no modelo home based. "O e-commerce estava indo bem e recebíamos muitos pedidos de brasileiras que moravam no exterior e queriam ter uma renda extra", conta Camila.

Para atrair franqueados, ela acredita que, além de oferecer um negócio inovador, é importante ter um propósito claro por trás, pois é isso que as pessoas buscam hoje. "O que atrai empreendedores para a Frida é, justamente, o propósito", diz Camila, ressaltando que os pilares da empresa são baseados no empoderamento feminino, tanto no bem-estar quanto na parte financeira.

Camila - Divulgação - Divulgação
Camila decidiu aprender mais sobre gestão e começou a cursar pós-graduação em negócios digitais
Imagem: Divulgação

O investimento inicial para se tornar franqueada vai de R$ 6 mil a R$ 22 mil, dependendo do modelo de negócios. Atualmente, há três modalidades: digital, no qual a franqueada vende apenas pela internet; home office, que possibilita oferecer produtos a pronta entrega; e o Espaço Frida, com vendas em um local físico e foco em parcerias com estabelecimentos comerciais. E pensar em novos serviços faz parte da estratégia da empresa. Em maio, a Frida lançou a Frida Box, modelo de assinatura no qual a cliente recebe em casa todo mês um produto da marca, além de itens e brindes de outras empresas voltadas ao bem-estar. A meta é chegar a 300 assinantes até o final do ano.

'Tudo pode mudar de um dia para o outro'

Outro ponto importante para ter sucesso é a flexibilidade e a determinação de não desistir em meio aos desafios. "A dificuldade é diária e é normal, às vezes, pensar em desistir", diz. Até porque, à medida que a empresa cresce, problemas diferentes surgem e é preciso buscar conhecimento e estar perto de pessoas que são referência no mercado para trocar informações", afirma. "Temos uma rede forte de contatos, com pessoas que nos orientam e nos ajudam a seguir, mesmo com medo".

Nesse sentido, ela destaca o autoconhecimento para lidar melhor com o lado emocional. "Toda semana faço algum curso de gestão nessa linha, além de terapias holísticas, para estar bem e passar isso para toda a rede", diz

A empreendedora lembra uma fase bem complicada em 2021. "Metade da minha equipe pegou covid e precisou ficar afastada. Foi algo totalmente fora do nosso controle, mas não havia saída e trabalhamos para dar conta de todas as demandas de forma rápida. Ter flexibilidade para lidar com questões que, de um dia para o outro, podem surgir, é crucial", afirma.

Apoio para as franqueadoras

Livro - Divulgação - Divulgação
Empresária lançou o livro 'Poderosa, empresária, sou Frida, sou F@d#', que retrata sua história de empreendedorismo
Imagem: Divulgação

Com essas dificuldades e imprevistos em mente e para apoiar as franqueadas, Camila resolveu criar o Instituto Frida, que oferece capacitação para ajudar as pessoas a tocar um negócio, como "Medos que te impedem de viver seu propósito" e "Como reconhecer suas habilidades". Camila explica que muitas mulheres que chegavam até ela queriam empreender, mas tinham medo. E esse receio não estava envolvido apenas com o dinheiro ou o negócio, mas também com questões emocionais.

Outro auxílio é com o plano de carreira. "Muitas começam com o modelo de home based, mas têm a ideia de crescer e abrir uma loja. Nós a ajudamos em todo o processo", explica.

Além disso, no início de março, a empresária lançou o livro "Poderosa, empresária, sou Frida, sou F@d#", que retrata sua história de empreendedorismo na criação da marca. "Meu objetivo é inspirar as mulheres a empreender, mostrando o começo do negócio e todos os percalços para chegar aonde estamos hoje", diz. Camila colaborou, ainda, com a publicação "Gestão Contemporânea: Estudo de caso e reflexões", que aborda o mercado de franquias.

Ela deixa dois conselhos para as mulheres que querem abrir um negócio. O primeiro é buscar capacitação. "Sei que o medo bate, pois também tive. O segredo é acreditar que somos capazes e investir em conhecimento técnico e emocional. Se não investirmos em nós, quem fará isso?", ressalta.

O segundo é respeitar o tempo das coisas e de si mesma. "Já fiquei muito mal por questões emocionais e minha sensação é que a empresa não cresceria como eu queria e planejava. Decidi parar um pouco e fiquei um tempo em uma praia mais distante para organizar minhas ideias e planejar os próximos passos da Frida. Voltei e estruturei o modelo de franquias", conta.

Segundo Camila, antes de expandir é normal paralisar e chegar a um lugar de escuridão. Por isso, fazer uma pausa pode gerar bons insights. "O dia a dia nos consome muito e ficamos focados nas questões operacionais. Parar um pouco permite uma visão mais estratégica e geral", completa.

Entretenimento