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OPINIÃO

Transfobia e racismo constantes transformam BBB 22 em experiência negativa

do UOL

Colunista do UOL

22/01/2022 20h07

As últimas 24 horas foram pesadas para Linn da Quebrada dentro do BBB 22. Ela, que é travesti, sofreu uma série de microagressões transfóbicas. Alguns participantes do programa insistem em não respeitar a forma como deseja ser chamada.

Sendo travesti, Linn vive uma experiência feminina que exige pronomes femininos e quer ser tratada como ela/dela. A cantora e atriz até tatuou na testa um "ela" bem grande. Para a pessoa realmente interessada em respeitá-la, é difícil se confundir em relação a isso. Porém, não é o que tem ocorrido dentro da casa.

Neste sábado (22), Linn recebeu um torpedo anônimo - mensagem que aparece no telão da casa - perguntando se ela está solteiro. Sim, no masculino. Esse tipo de coisa pode parecer um mero detalhe para quem não é travesti ou transexual, mas é constrangedor e violento para quem é alvo.

Em outra ocasião, Rodrigo Mussi se referiu a uma travesti como "traveco", termo pejorativo e ofensivo. Ele foi corrigido por outras pessoas, mas fez questão de ir até a Linn contar o que disse e pedir orientação. Por mais bem intencionado que estivesse, ao expor a situação para a cantora, ele também a ofendeu. Não foi diretamente sobre ela, mas a afeta.

Quem assiste o BBB e passa pelo mesmo que Linn também se sente violentada. Afinal, a situação pode funcionar como gatilho para memórias igualmente negativas. Não se trata de um simples engano, e por isso é importante registrar o fato como uma violência.

Perguntas racistas

Além da transfobia, o racismo também tem sido recorrente dentro do BBB 22. De maneira aparentemente sutil, as pessoas negras da casa têm sido consultadas sobre os maiores absurdos relacionados ao tema.

O ator Douglas Silva tem sido o principal alvo de perguntas que parecem ter um interesse antirracista genuíno, mas que são violentas. Quando você trata uma pessoa negra como um dicionário de termos racistas disponível 24 horas para você, isso também é ofensivo para ela. E é esse tipo de comportamento que Rodrigo tem tido.

Em situações aleatórias, o gerente comercial já questionou se é racista chamar um negro de "nego" e se uma palavra considerada racista nos EUA é racista. Rodrigo parece muito interessado nos temas, mas na verdade só está enchendo o saco de quem não quer ficar falando sobre violências e traumas sofridos durante a vida.

Experiência negativa

Esse combo de violências tem deixado o BBB exaustivo. Há quem acredite que tudo isso colabore para ampliar os debates sobre racismo e transfobia. Mas a que custo? Para que mais gente saiba que esses preconceitos existem e são realmente nocivos, devemos assistir a mais pessoas passando por esse tipo de violência ao vivo?

O BBB é interessante por retratar a sociedade em diversos aspectos, mas também é um reality show de entretenimento. Se o programa tiver como única finalidade ser uma clínica de reabilitação para gente preconceituosa, é melhor esquecer a diversão porque só vai restar a tortura, tanto para quem participa quanto para quem assiste. Uma experiência negativa completa.

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