O Campeonato Brasileiro é um triste reality show
No início do ano, o Brasil acompanhava uma das melhores edições do BBB. Quando a notícia de que a pandemia da covid-19 era uma realidade, surgiu a dúvida se a Rede Globo manteria o programa.
A decisão da Globo de manter o Big Brother Brasil pareceu coerente. Ainda havia poucos casos, os brothers já estavam confinados e não tiveram contato com o vírus. A produção tomou todos os cuidados, fez ajustes na dinâmica do programa e o BBB se tornou um grande entretenimento para o momento, um alívio em meio ao isolamento social, que ali parecia que duraria no máximo uns quinze dias.
Não é só futebol
Os casos continuaram crescendo no Brasil, mas mesmo assim o futebol começou a retomar as atividades em julho, com os torneios estaduais. Tivemos jogos com gosto agridoce e episódios lamentáveis. E quando falo de episódios lamentáveis, não me refiro às famosas cenas lamentáveis com brigas de jogadores. Como esquecer a final do Campeonato Carioca, disputada no Maracanã, ao lado de um hospital de campanha?
Agora, cinco meses depois e com mais de 100 mil mortes por covid-19 confirmadas no país, acompanhamos neste final de semana o início do Campeonato Brasileiro 2020.
O principal campeonato do futebol nacional começou como se nada estivesse acontecendo e como se bastassem alguns protocolos para o vírus não chegar aos envolvidos nos jogos.
Porém, essa normalidade que estão tentando nos fazer engolir foi quebrada com a notícia de que 10 jogadores do Goiás estavam contaminados antes da partida contra o São Paulo. E tudo aconteceu em meio a muita confusão.
De acordo com o clube goiano, os atletas fizeram testes na sexta-feira (7), mas os resultados só foram divulgados pela CBF no dia do jogo, às 8h30. E isso rolou porque os testes feitos na quinta-feira (6) foram invalidados por falhas do laboratório escolhido.
Mesmo assim, a dúvida sobre a realização do jogo permaneceu até o horário marcado para o seu início. O time do São Paulo chegou a entrar em campo. O Goiás teve que se virar para arrumar atletas para escalar, acionando inclusive jogadores que não estavam concentrados e estavam de folga com a família.
Com a bola prestes a rolar, chegou a notícia de que o jogo estava suspenso pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Na transmissão da Globo, quem deu a informação foi o comentarista de arbitragem, Sálvio Spinola.
Cenas lamentáveis
Todo esse drama sendo transmitido ao vivo deu a impressão de que se tratava de uma simulação da vida real. Um ensinamento de como ainda não dá para retomar certas atividades. Parecia até um programa que acompanha a realidade de jogadores, com as coisas boas e ruins da sociedade. Um reality show.
Na Globo, Casagrande foi enfático sobre o seu posicionamento.
Minha vontade é nem falar do futebol hoje. Isso que aconteceu pra mim não é surpresa nenhuma. O vírus continua espalhado pelo país. E o Ney Franco (técnico do Goiás) vem quebrado. Depois desse jogo vai todo mundo pra quarentena? Porque os jogadores do Goiás se concentraram com quem testou positivo, os jogadores do São Paulo vão ter contato com eles. Como vai ser?
E depois de todo esse drama e o anúncio da suspensão do jogo, a Globo passou a exibir Flamengo x Atlético-MG. Como se nada estivesse acontecendo. Como se a contaminação dos jogadores do Goiás e a suspensão do jogo fossem apenas um erro técnico, um episódio isolado.
De fato, tudo o que está acontecendo no futebol é inédito. Mas não passa de um entretenimento triste. Daqueles que nos lembram da situação que vivemos, mas narrados com euforia. Um reality show que não desperta mais emoção em mim.
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