Drauzio critica Bolsonaro na Globo após 100 mil mortes: 'Negou o perigo'
O médico oncologista e cientista Drauzio Varella criticou hoje, no "Fantástico", as ações do governo federal e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no combate ao coronavírus, após o Brasil alcançar a marca de 100 mil mortes pela doença.
A mensagem foi exibida após Bolsonaro criticar hoje à tarde a Globo pela edição de ontem do "Jornal Nacional", que sempre espalha "pânico na população e a discórdia entre os Poderes", segundo o chefe do Executivo.
Drauzio afirmou que faltaram informações na China no início da epidemia e que muitas pessoas, inclusive ele, não "previram a gravidade do vírus".
Para o médico, porém, o país teve a oportunidade de observar como outros países, principalmente na Europa, fizeram para tentar deter a covid em fevereiro, mas ainda assim o governo e Bolsonaro pecaram nas ações.
"Tivemos mais de um mês para nos organizar para chegada do vírus. Pela experiência nos outros países, soubemos que era fundamental adotar o isolamento social, usar máscara e testar a população. Nesta hora [que chegou ao Brasil], não tivemos testes nem ação coordenada do governo, porque nossa autoridade máxima negou o perigo que corríamos, provocou aglomerações e fez questão de andar por aí sem máscara", apontou.
O médico analisa o resultado da pandemia no Brasil como desastrosa e diz que perdemos o controle sobre ela. Por outro lado, elogia o SUS (Sistema Único de Saúde), mesmo que haja ainda problemas no sistema.
"Outros políticos e uma parte da sociedade seguiram o mesmo comportamento. O resultado não poderia ser o mais desastroso. Perdemos o controle da epidemia. Os mais pobres, negros, que vivem em lugares de difícil acesso — como os indígenas — e os que moram em comunidades com estrutura precária formaram a maioria das 100 mil mortes. O SUS tem sido heroico, mas tem que ser preparado para atender a demanda dos locais em que a epidemia se alastra", acrescentou.
Por fim, Drauzio deixou uma mensagem positiva: de que há tempo ainda para diminuir a tragédia, mas é necessário que o governo e as autoridades trabalhem para proteger a população.
"Ainda há tempo para reduzir as dimensões das nossas tragédias. Desde que o governo federal e demais autoridades se empenhem em testar e conscientizar a população de que andar por aí sem máscara e distanciamento é fazer a epidemia durar muitos meses e prolongar o sofrimento das famílias mais pobres", completou.
Bolsonaro critica Globo: ''Festejou como final da Copa'
Mais cedo, Bolsonaro criticou a Globo após editorial de ontem do "Jornal Nacional", no dia em que o Brasil passou da marca de 100 mil mortes por coronavírus. O telejornal culpou o presidente por partes dos óbitos e relembrou algumas declarações dele desde o início da pandemia, como o "e daí?" e "não sou coveiro".
No Twitter, mesmo lamentando as mortes e criticando o isolamento social novamente, o presidente afirmou, sem citar nomes, que a rede de televisão "só espalhou o pânico na população e a discórdia entre os Poderes".
Além disso, afirmou que a Globo "desdenhou, debochou e desestimulou" o uso da hidroxicloroquina — que não tem comprovação científica para a doença, mas que segue sendo defendida por ele.
Segundo o presidente, mesmo que nenhum estudo indique sua eficácia, o medicamento "salvou a minha vida e, como relatos, a de milhares de brasileiros". Bolsonaro escreveu também no Twitter que a "desinformação mata mais do que o vírus" e mandou recado:
"O tempo e a ciência nos mostrarão que o uso político da covid por essa TV trouxe-nos mortes que poderiam ter sido evitadas."
Por fim, o chefe do Executivo afirmou que a Globo "festejou" a marca de 100 mil mortes — de forma "covarde e desrespeitosa" — como uma final de Copa do Mundo e disse que a emissora está com saudades dos governantes que a colocava "como prioridade ao fazer o Orçamento da União, mesmo sugando recursos da saúde e educação".
JN culpa Bolsonaro e questiona se ele seguiu a Constituição
O "Jornal Nacional" começou a edição de ontem com uma crítica direta ao presidente Bolsonaro.
Os âncoras William Bonner e Renata Vasconcellos lembraram que o país está há 12 semanas sem ministro titular da Saúde. E apontou que os ministros anteriores — que eram médicos — deixaram o cargo porque pretendiam seguir as orientações da ciência, o que Bolsonaro não concordou.
Na sequência, Bonner relembrou algumas declarações do chefe do Executivo sobre as mortes em decorrência da doença desde o início da pandemia. "Primeiro, o presidente menosprezou a doença e a chamou de 'gripezinha'. Depois, Bolsonaro disse que não era coveiro. Disse duas vezes", lembrou o apresentador.
"Quando os óbitos chegaram a 5 mil, a resposta dele foi: E daí?'. Agora o presidente repete que a pandemia é uma chuva e que todos vão se molhar. Que a morte é o destino de todos nós e que temos que enfrentar a doença, como se fosse uma questão de coragem", completou.
A edição especial teve como objetivo apontar que está na Constituição do Brasil que é dever dos governantes implementar políticas que visem reduzir o risco de doenças. E que isso será motivo para análises futuras sobre a situação atual do país.
"A pergunta que se impõe é: o presidente da República cumpriu esse dever? Entre os governadores e prefeitos, quem cumpriu e quem não cumpriu [seu dever]? Mais cedo e mais tarde, o Brasil vai precisar de resposta para essas perguntas'", questionou Renata.
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