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Opinião: Band dá exemplo de resiliência e coragem na TV

Zeca Camargo e Mariana Godoy, as novas contratações da valente Band - repdoução/Instagram
Zeca Camargo e Mariana Godoy, as novas contratações da valente Band Imagem: repdoução/Instagram
do UOL

Colunista do parou

05/07/2020 00h09

Como todos sabem a pandemia de coronavírus virou a vida das pessoas e a economia de cabeça para baixo. Ela esvaziou o bolso tanto de pessoas físicas como jurídicas.

Na TV aberta não foi diferente. Foi um dos setores mais impactados pelo vírus mortal.

É uma crise sem precedentes: demissões em massa ou funcionários e artistas com salários reduzidos, e programas foram adiados ou extintos.

Tudo pela impossibilidade de se trabalhar na quarentena e, lógico, a consequente falta de dinheiro.

Em algumas emissoras as receitas publicitárias caíram até 70%

Apesar disso tudo, uma emissora que já vinha lutando para ficar com a cabeça fora d´água nos últimos anos, mesmo antes da pandemia, tem tomado nas últimas semanas decisões surpreendentes —e até mesmo espantosas— para a situação atual: a Band.

Enquanto a Globo faz demissões às "pencas", o SBT só tem a oferecer reprises e um "subjornalismo", a Record está paralisada e sem novidades, a sofrida e endividada Band vai à luta e nada contra a corrente.

Na semana passada a emissora da família Saad assumiu que fracassou com a "nova" versão de um programa com pouco mais de 30 dias: tirou do ar o "Aqui na Band" no formato, digamos, Lacombe-direitista.

Mais: fez duas contratações de peso e qualidade ao trazer Mariana Godoy (ex-RedeTV) e Zeca Camargo (ex-Globo) e para o Morumbi.

As mudanças e novidades

Mariana terá participação multiplataformas na casa: será estrela da TV aberta (vai comandar algum programa, mas não está nada decidido ainda), terá outro na TV paga e também vai brilhar no sistema de rádio do grupo.

Já Zeca foi contratado na última quinta e terá a função de diretor de Produção e formulará novas atrações para outros horários. Aceitou o convite de seu novo chefe, Antonio Zimmerle —também um ex-global.

A movimentação da Band pegou todo mundo de surpresa.

Afinal, ninguém diria que a combalida emissora teria forças —e dinheiro— para uma manobra dessas num momento como o atual. Teve.

Vamos relembrar?

Uma empresa no vermelho

A Band veio enfrentando nas últimas décadas uma situação de degradação contábil.

Chegou ao ponto de perder o controle de suas dívidas e foi até considerada por agências de avaliação como uma empresa já à beira da insolvência.

Para piorar, uma disputa entre os acionistas (a família Saad), além de terceiros que também entraram na história, acabou levando a Band a uma situação periclitante em relação a seu próprio futuro.

A programação também sofreu pesadas baixas. No ano passado morreu sua maior estrela, o jornalista e âncora Ricardo Boechat.

Antes, ela já havia perdido outro "filho ilustre": o sagrado futebolzinho das quartas e domingos, no qual fazia parceria com a Globo havia décadas.

Por falta de pagamentos, a Globo cancelou o acordo e tirou os jogos da Band. Eles eram a maior audiência da emissora.

10, 9, 8, 7, 6, 5, 4 ,3, 2, 1?

Pois a "cascuda" Band manteve a 4ª colocação no Ibope no país e levantou dessa situação de nocaute antes do gongo.

Levantou e voltou a brigar: nos últimos dois anos cortou gastos, enxugou estruturas, demitiu e acabou com os altos salários.

Mudou sua direção artística, readaptou a programação. E, o mais importante: mudou sua atitude diante das próprias dívidas. Finalmente olhou para seu destino como empresa.

Uma das grandes credoras da Band era a Globo, a quem eram devidos cerca de R$ 135 milhões.

Pois até o final do ano passado a Band já havia pago quase 95% dessa dívida e caminhava para uma situação que, se não fosse já 100% solvente em 2020, caminhava para isso.

Ninguém acreditava que isso ainda seria possível.

Porém, ainda tinha um vírus no meio do caminho...

A Band foi nocauteada uma segunda vez —agora pelo vírus que parou a economia.

No entanto, se ergueu novamente e está no ringue. É impressionante.

Claro que, além dessa força de vontade e de se acertar, a Band tem outros pilares sólidos.

A saber:

- um jornalismo extremamente qualificado, provavelmente o segundo melhor do país, só atrás do da Globo (falo mais de tamanho do que de qualidade, bom avisar);

- um sistema de rádio de altíssimo gabarito, bom gosto e valor comercial;

- olho no futuro: o Grupo Band não foi tolo como maioria de seus concorrentes e se tornou presente na TV paga; além da competente BandNews TV e do diferenciado BandSports, o grupo ainda tem um dos melhores canais da TV paga no Brasil: o fabuloso Arte1.

Vale acrescentar ainda que nos últimos meses a emissora fechou um acordo de parceria com os gigantes China Media Group e Grupo Discovery.

Sobre o futuro

Sim, verdade, ninguém pode prever o futuro nem mesmo num momento normal, como fazê-lo então em uma situação de crise sanitária como a atual?

Sim, o ibope da Band ainda é pequeno diante do tamanho, história e simbolismo da emissora para o país; no entanto, a perda do futebol foi um impacto e tanto.

Sim, ainda há enormes dívidas, mas a direção parece empenhada em resolver isso de forma definitiva; não há outra saída.

Sim, ainda é preciso pensar estrategicamente mais no streaming e em outras tecnologias.

Sim, ainda falta resolver o problema crônico da disputa familiar que "empaca" a TV e o restante do grupo rumo ao futuro.

Porém, a atitude da Band em plena pandemia, a decisão de mudar, de se reformular, de afastar alguns nomes, de contratar outros (qualificados) a torna ainda mais admirável e respeitável como TV e como pessoa jurídica.

Repito: enquanto a Globo demite em massa, o SBT declina a olhos vistos, a Record fica sem ação e a RedeTV está mais preocupada com sorteios do que em grade de programação, a Band está de pé e lutando.

Dá um exemplo incrível de coragem, força, seriedade, de resiliência corporativa e, principalmente, de respeito a seu fiel telespectador.

Em plena pandemia mortal, a Band prova que está viva.

Ricardo Feltrin no Twitter, Facebook, Instagram e site Ooops

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