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J.K. Rowling: autora de 'Harry Potter' foi de fada sensata a cancelada

A autora J.K. Rowling - Carlo Allegri
A autora J.K. Rowling Imagem: Carlo Allegri
do UOL

Guilherme Machado

Do UOL, em São Paulo

05/07/2020 04h00

J.K. Rowling conseguiu o que ninguém achava possível: atrair a ira de seus fãs (e dos nem tão fãs assim).

Isso porque a autora de "Harry Potter" fez uma série de comentários no Twitter considerados transfóbicos, o que a fez ser criticada por fãs, atores da saga no cinema e até mesmo por colegas de profissão —escritores deixaram sua editora após a polêmica.

O choque foi ainda maior porque J.K. costumava ser vista como "fada sensata", graças à sua criação mais famosa. Os livros de "Harry Potter", além de mágicos, também abordam injustiça, preconceito, solidão e revolução. Ou seja, superprogressista, né?

Para muitos fãs, a saga fez parte de suas infâncias não apenas por conta da magia, mas por tocar sobre assuntos muito importantes para as novas gerações, que enxergavam a saga como uma analogia à resistência a um mundo cruel.

O mundo extra-literário também tinha peso. Além de suas histórias, a autora parecia ser engajada em causas sociais. J.K. foi elogiada ao anunciar que o personagem Dumbledore era gay, por defender os direitos da comunidade LGBTQI+, por aprovar a Hermione interpretada pela atriz negra Noma Dumezweni na montagem original da peça "Harry Potter e a Criança Amaldiçoada" e também por se aliar causas políticas e filantrópicas. Ela doou R$ 6,8 milhões para afetados pela pandemia e até pediu para os brasileiros ficarem em casa, sabe?

Mas parece que o jogo virou.

Antes mesmo dos tais comentários transfóbicos, até os fãs mais devotos andavam se irritando com o excesso de detalhes que a autora dava sobre Harry Potter —a maioria totalmente inútil. Como da vez em que ela contou como os bruxos antigos lidavam com suas fezes, o que, francamente, é melhor nem saber, né.

Mas a situação ficou muito mais séria quando ela defendeu Maya Forstater, que perdeu seu emprego após se posicionar contra uma legislação que permitiria que pessoas trans se identificassem com outros gêneros:

Vista-se como quiser. Chame a si mesmo do jeito que preferir. Durma com qualquer adulto que puder consentir e quiser você. Viva a sua vida da melhor forma, em paz e em segurança. Mas tirar as mulheres de seus empregos por dizerem que sexo biológico é algo real?

Só que essa não foi a única vez. J.K. Rowling voltou a fazer comentários considerados transfóbicos: ela zombou de uma manchete que falava sobre "pessoas que menstruam". "'Pessoas que menstruam', eu tenho certeza que costumava existir uma palavra para essas pessoas", declarou ela, sendo mais uma vez fortemente criticada.

Alguns atores do elenco dos filmes de "Harry Potter" se posicionaram contra as palavras da autora, que brigou com Stephen King após o colega apoiar a causa trans. Até mesmo sites de fãs dedicados a "Harry Potter" condenaram suas palavras.

Mulheres trans são mulheres. Homens trans são homens. Nós todos deveríamos ter o direito de viver com amor e sem julgamento - Rupert Grint, intérprete de Rony Weasley

Mulheres trans são mulheres. Qualquer declaração contrária apaga a identidade e dignidade de pessoas transgênero e vai contra todos os conselhos dados por profissionais de associações de saúde que têm bem mais expertise neste assunto do que a Jo Rowling ou eu - Daniel Radcliffe, o Harry Potter

Depois da celeuma, autora lançou um longo artigo explicando sua história com violência doméstica e suas visões sobre sexualidade, mas não pediu desculpas por seus posicionamentos.

Com tudo isso, J.K. acabou caindo do pedestal e seus fãs se mostraram decepcionados. Resta saber se isso ainda pode afetar de forma mais profunda o legado de "Harry Potter", uma série tão querida.

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