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Jackson Antunes lembra agressão por papel em 'A Favorita': 'Tive trombose'

Jackson Antunes como Léo em "A Favorita" - Isac Luz
Jackson Antunes como Léo em 'A Favorita' Imagem: Isac Luz
do UOL

Guilherme Machado

Do UOL, em São Paulo

06/06/2020 04h00

Quem assiste a Jackson Antunes em "A Favorita", novela que foi disponibilizada na íntegra no Globoplay em um resgate de tramas clássicas, até toma um susto ao falar com o ator na vida real. Se seu personagem, Léo, é um homem bruto, agressivo e cruel, o ator é um exemplo de carinho. "Você é meu novo velho amigo", diz ele ao repórter, enquanto conta como gosta da natureza. Por isso, choca ainda mais lembrar que, por causa de sua interpretação, o ator chegou a ser agredido na rua.

Léo discute com Catarina (Lilia Cabral) em 'A Favorita' - Globo/Frederico Rozario - Globo/Frederico Rozario
Léo discute com Catarina (Lilia Cabral) em 'A Favorita'
Imagem: Globo/Frederico Rozario

Em "A Favorita", Léo era um homem que humilhava constantemente a mulher, Catarina (Lilia Cabral), e a filha, Mariana (Clarice Falcão), agredindo as duas verbal e fisicamente. Um dia, o ator foi abordado enquanto andava pela rua no Rio de Janeiro. Um homem, enraivecido com o ator, o empurrou. Resultado: Antunes ficou dias internado no hospital. Na época, ele estava realizando um tratamento na perna esquerda e a situação agravou o quadro.

Sou muito risonho, sou da roça, de bem com a vida. Dei uma gargalhada achando que se tratava de uma brincadeira. Ele me empurrou de tal forma que tive uma trombose na perna. Boa parte da novela eu fiz na cadeira de rodas, minha esposa me acompanhava, aplicando remédio na minha barriga.

Para o ator, já na época em que a novela foi exibida, em 2008, havia um fator político: o homem teria achado que, de alguma forma, ele representava um pensamento da emissora. Hoje, em um contexto bastante conturbado, ele não sabe como o público poderia reagir ao seu personagem.

Eu não sei se hoje seria diferente, as pessoas estão muito raivosas. Teve um tempo em que parei de ver televisão, só via entretenimento mesmo. Fui ver um telejornal... Rapaz, parece que está normal para o mal.

Energia pesada

Jackson relembra que, durante meses, ao interpretar Léo, ele sentiu um peso nos ombros, por causa da carga pesada de cada cena.

Toda vez que terminava uma cena eu pedia desculpas para a Lilia. Era muito difícil. Mesmo na ficção, mesmo inventado, faz mal. Não tinha uma cena que dava um refresco, todas eram pesadas: aquele homem horrível humilhando a mulher. Psicologicamente ou fisicamente.

Mas o ator também não teve medo de se jogar no personagem, e mudou sua aparência para vivê-lo.

Eu assumi o papel de tal forma que fiquei com 130 quilos na época, porque queria mostrar o lado sombrio daquele homem esteticamente feio, psicologicamente feio. Comprei a briga, dei uma de Robert De Niro tupiniquim [risos].

Ele também se mostra feliz com a repercussão que o personagem teve na época, uma vez que ajudou a colocar luz sobre o tema da violência doméstica no Brasil.

Na época as agressões domésticas caíram 24%. Ter o opressor e o oprimido discutindo aquilo no horário nobre levou algumas pessoas a uma reflexão, e algumas mulheres a tomar atitudes, a não aceitarem aquilo. A gente fica feliz quando nosso trabalho vai além do entretenimento.

Novos tempos

Agora, em isolamento com sua família, Jackson Antunes espera para poder retomar as gravações da próxima novela das 18h, "Nos Tempos do Imperador", em que vive o Duque de Caxias, principal conselheiro do imperador Dom Pedro II, interpretado por Selton Mello.

"Tenho um carinho pelo Selton, a pessoa, artista, diretor, fiz com ele 'O Palhaço'. O Caxias é o pai que o Pedro não teve. O único cara que ele ouve, o confidente. São personagens muito especiais", diz. "Estava muito focado, mas acho que a emissora teve uma atitude muito digna. Acho bonito quando uma empresa se preocupa com a vida, com a saúde de seus profissionais. A vida acima de tudo. Por isso estamos em casa."

O ator vê na pandemia do novo coronavírus um recado divino, e acredita que é uma chance para a humanidade olhar com mais carinho para o planeta.

Eu sinto isso como um recado de Deus para a gente. Se esse recado não for entendido... Tomara que a gente entenda.

Ele também enfatiza que coloca suas esperanças nas novas gerações.

Meu filho tem 20 anos, ele é totalmente apegado à natureza, aos animais. Mas minha geração era mais bruta. De repente o mundo foi ficando maluco, mas acho que essa nova geração é muito especial. Me tranquiliza muito saber que essa nova geração tem algumas preocupações.

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