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OPINIÃO

Carismática e bagaceira, Marília Mendonça mereceu bater recorde do YouTube

Live de Marília Mendonça no YouTube conta com intérprete de libras "dançante" - reprodução/YouTube
Live de Marília Mendonça no YouTube conta com intérprete de libras 'dançante' Imagem: reprodução/YouTube
do UOL

Liv Brandão

Do UOL, em São Paulo

09/04/2020 00h32

Sentada em uma cadeira de design aristocrático que mais parecia um trono, a Rainha da Sofrência bateu um recorde mundial na noite desta quarta-feira (8). Em live beneficente transmitida em seu canal do YouTube, Marília Mendonça atraiu mais de 3,5 milhões de usuários simultâneos, que curtiram o show direto de suas casas no que vem se tornando o novo normal em tempos de quarentena. Com isso, a cantora destronou —desculpe— os colegas de sertanejo Jorge e Mateus, cuja supremacia durou apenas quatro dias. Isso sem falar de mais de 1 milhão de usuários acompanhando seu show em canais não-oficiais. Sucesso é isso.

Espectadores estrelados

Com espectadores famosos que foram de Alcione, Maisa Silva, Bruna Marquezine e seu ex-namorado, o jogador de futebol Neymar (será que rolou indireta?), e até o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (que mandou recadinho para quem estava em casa praticando o isolamento social na companhia virtual da cantora), Marília deixou a licença maternidade de três meses para entreter os fãs durante o período de quarentena.

Além disso, Marília aproveitou a visibilidade sem precedentes para divulgar as (muitas) lives de amigos que rolarão nos próximos dias. Generosa e fofa (ela até mandou beijo para a galera do Twitter, que inclui esta que vos escreve, para o orgulho de minha mãe).

'Seguindo as recomendações do Ministério da Saúde'

Deixando claro que nos bastidores só havia a equipe estritamente necessária para tornar a live possível (afinal, Jorge e Mateus causaram polêmica com uma superprodução não recomendada para os tempos que vivemos), Marília tocou na sala da própria casa, com uma estrutura aparentemente simples, sendo acompanhada por bases pré-gravadas.

Em vez de músicos ou bailarinos, foi acompanhada em vídeo por dois intérpretes de libras, que pareciam se divertir tanto quanto o seu "rebanho" (sim, é assim que ela se refere aos fãs), que assistia em casa. No "cenário", seu violão, quadros com ilustrações dela mesma e uma iluminação esverdeada que, segundo ela, estava esquentando mais que dos palcos, tudo tinha cara de caseiro, e não de superprodução. Esperamos que sim.

'Esqueci a letra e essa composição é minha'

Com a caneca onde se lia "existe uma chance de isso ser cerveja" cheia de... cerveja ("segredo" que ela só revelou ao final), a cantora relembrou os maiores hits de uma carreira muitíssimo bem-sucedida de apenas cinco anos. "Ciumeira", "Todo Mundo Vai Sofrer" e "Infiel" —cuja letra os fãs sabiam melhor que ela mesma, que precisou recorrer várias vezes ao Google, direto do smartphone— foram entoadas pelos fãs e citadas nas redes sociais. Figuraça.

'Não repara nas minhas unhas, não faço há dois meses'

Enquanto o panelaço conta o governo do presidente Jair Bolsonaro comia solto lá fora, na minha sala Marilia Mendonça cantava as dores do amor com "Graveto", primeiro lançamento após dar à luz Léo, seu primeiro filho, com o também cantor Murilo Huff.

Você virou saudade aqui dentro de casa/ Se eu te chamo pro colchão, você foge pra sala/ E nem se importa mais saber do que eu sinto/ Poucos metros quadrados, virou labirinto

Marília, dona de um carisma bagaceiro, parava de tempos em tempos para agradecer aos doadores —fossem eles grande empresários, que ajudaram a arrecadar toneladas e mais toneladas de mantimentos, produtos de higiene e os chamados EPIs, equipamentos de proteção individual, ou os próprios fãs— e também para ir ao banheiro. Afinal, ninguém é de ferro.

Sem cerimônia, tirou o tênis de estampa de oncinha e calçou os chinelos do patrocinador, usou uma toalhinha com seu nome bordado para evitar pagar calcinha e parou o som para pular músicas que ela não havia ensaiado. Lia o teleprompter, perguntava detalhes para a equipe e dava "tocobina" em números que insistiam em ligar no meio de seu show. Entre um improviso e outro, clássicos sertanejos que criou ao ajudar a renovar o gênero. E fez sucesso. Ela pode.

Por quase quatro horas, Marília usou seu brilho para unir o país —sua onipresença nos trending topic do Twitter que o diga— e fez esquecer, mesmo que por um tempo, as agruras do coronavírus.

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