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Premiação do César, o Oscar do cinema francês, ocorre envolta em polêmicas

Pôster do filme J"acusse, de Roman Polanski, em um cinema de Paris; obra lidera número de indicações na premiação (12) - Martin Bureau/AFP
Pôster do filme J'acusse, de Roman Polanski, em um cinema de Paris; obra lidera número de indicações na premiação (12) Imagem: Martin Bureau/AFP

Em Paris

28/02/2020 09h06

A premiação do César, o Oscar do cinema francês, acontece nesta sexta-feira (28) com poucos motivos para festa: criticada, sua diretora renunciou e um dos protagonistas da cerimônia, o cineasta Roman Polanski, desistiu de comparecer em razão dos protestos de grupos feministas.

"J'accuse" ("O oficial e o Espião"), o mais recente filme de Polanski sobre o histórico caso Dreyfus, lidera as indicações com um total de 12, ao lado de "Les Misérables" ("Os Miseráveis"), retrato de uma periferia parisiense indicado ao Oscar.

Este reconhecimento provocou a revolta de associações feministas, que destacam que Polanski é objeto de várias acusações de estupro.

A pressão levou Polanski, de 86 anos, a desistir de participar da cerimônia. Em 2017, ele já havia renunciado a presidir a cerimônia pelo mesmo motivo.

"Lamento tomar esta decisão, a de não enfrentar um tribunal de opinião autoproclamado disposto a pisotear os princípios do Estado de direito para que o irracional triunfe novamente", afirmou o cineasta em um comunicado.

Várias associações feministas convocaram uma manifestação nesta sexta-feira em frente ao salão Pleyel, em Paris, onde a cerimônia de premiação será realizada.

"Sabemos de antemão o que vai acontecer. As ativistas já me ameaçam com um linchamento público. Alguns anunciam protestos em frente à Sala Pleyel de Paris, onde a cerimônia acontecerá", escreveu Polanski.

"Tenho que proteger minha família, minha mulher e meus filhos, que são submetidos a ofensas, afrontas", concluiu.

Premiado em Veneza

A polêmica sobre as indicações de "J'accuse", que também recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza, teria contribuído para a renúncia no início do mês da diretoria da Academia do César, também criticada por gestão "obsoleta".

A estreia do longa-metragem no fim de 2019 na França foi marcada por pedidos de boicote depois que uma fotógrafa francesa, Valentine Monnier, disse à imprensa que Polanski a estuprou em 1975, quando ela tinha 18 anos. O diretor negou a acusação.

Polanski é considerado foragido da Justiça dos Estados Unidos, onde foi acusado, em 1977, de violentar uma adolescente de 13 anos.

Outras mulheres afirmaram nos últimos anos que foram vítimas de agressões sexuais por parte do diretor de "O Pianista".

A polêmica em torno do cineasta coincide com a condenação esta semana do ex-magnata de Hollywood Harvey Weinstein - considerado culpado de agressão sexual e de estupro - um escândalo que lançou o movimento global #MeToo.

Adèle Haenel, a primeira atriz francesa de renome que denunciou ter sido vítima de abuso sexual na indústria cinematográfica, estimou em entrevista ao New York Times que a França "deixou o trem partir" do #MeToo.

"Premiar Polanski é cuspir na cara de todas as vítimas. É o equivalente a dizer: 'não é tão grave estuprar mulheres'", disse.

Antes da cerimônia, a Academia francesa anunciou uma nova presidente interina, Margaret Menegoz.

Outros destaques nesta premiação do César são "La Belle Époque" (11 indicações) e "Retrato de uma Jovem em Chamas" (10).

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