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Direita x esquerda: Política também divide quadrinistas na CCXP 2019

Artists" Alley, corredor de quadrinistas da CCXP 2019 - Mariana Pekin/UOL
Artists' Alley, corredor de quadrinistas da CCXP 2019 Imagem: Mariana Pekin/UOL
do UOL

Guilherme Machado

Do UOL, em São Paulo

09/12/2019 04h00

Na CCXP 2019, em um corredor da Artists' Alley, na mesma fileira, duas visões de mundo diferentes. De um lado, Felipe Folgosi, ator apoiador convicto do governo do presidente Jair Bolsonaro. Do outro, Germana Viana, artista entusiasta da esquerda. As semelhanças? Os dois são quadrinistas e veem a arte como um canal para a política.

"O que você escolhe comer, vestir, tudo isso são escolhas políticas. E você tem que ocupar esse espaço. Tem visão política no meu quadrinho. E a pessoa que falar: 'Tem que ser só entretenimento', das duas à uma: ou ela está sendo desonesta, e passar uma agente política, ou é ignorância", diz Germana, cuja obra debate diversidade e respeito.

Apesar ver a arte como um espaço de debate, Felipe Folgosi acredita que é preciso fazer distinções. "Toda arte pode servir de veículo para algum pensamento. Agora, acho que tem que fazer uma distinção entre arte e propaganda. Historicamente governos usam arte como propaganda. Principalmente governos restritivos, totalitários", defende.

"Tem que separar a posição do artista e da obra, porque não necessariamente a obra tem que tratar de política. Arte engajada existe, mas não necessariamente. Você pode falar de coisas atemporais que ultrapassam a questão momentânea política", complementa ele.

A cartunista Germana Viana - Guilherme Machado/UOL - Guilherme Machado/UOL
A cartunista Germana Viana
Imagem: Guilherme Machado/UOL
O ator e cartunista Felipe Folgosi - Guilherme Machado/UOL - Guilherme Machado/UOL
O ator e cartunista Felipe Folgosi
Imagem: Guilherme Machado/UOL

Em outro local da CCXP, o assunto também era batido no painel Não Mete Política no Meu Quadrinho, no qual profissionais debatiam eventos recentes no mundo das HQs, como a proibição do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella a uma HQ na Bienal do Rio.

Os presentes no painel também falaram sobre um movimento que se iniciou nas redes e defendia quadrinhos "sem política".

"Eu fico me perguntando o que pensaram essas pessoas criaram essa campanha. O que que preenche esse lugar? A moral. É um discurso usado para moralizar as questões de sociedade", declara a quadrinista Carol Ito.

"O sem política é para ter uma política que já é meio hegemônica. Ser sem política é meio que um novo nome para censura", afirma Alexandre De Maio.

Do outro lado, Folgosi diz que não é a favor de uma arte "do contra". "Ser do contra o quê? Ser do contra simplesmente por ser do contra? O movimento que se faz conservador é conservar o que é bom. Eu sou contra o roubo, independente da sigla que tá no poder. A minha questão com o último governo é corrupção", enfatiza.

Já Germana Viana diz que a briga, no atual contexto político, vale a pena. "É difícil porque a gente vê amigos sofrendo muito, a gente sofre também. Mas a birra é muito forte em mi. Mas a gente consegue, vale a pena. Queria comemorar, mas se tem que lutar vamos lá", conclui ela.

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