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Killswitch Engage: Metal salva vocalista da depressão e agora ele retribui

Jesse Leach, do Killswitch Engage - Getty Images
Jesse Leach, do Killswitch Engage Imagem: Getty Images
do UOL

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

06/12/2019 04h00

Estar no centro do palco, cantando e liderando uma multidão de milhares de fãs de metal pode ser algo empoderador. Mas também pode esconder muito de quem um indivíduo como Jesse Leach, do Killswitch Engage, segunda banda mais importante do DreamFestival, que acontece amanhã, no Anhembi, em São Paulo. Em entrevista ao UOL, ele falou sobre sua luta contra a depressão e a ansiedade, que marcam parte das letras que escreve para o grupo, um dos mais importantes dos últimos tempos no gênero.

Jesse está em sua segunda passagem pela banda, num momento diferente dos anteriores, já que é mais aberto sobre o que passou em sua vida pessoal nos últimos anos. De um cara que sofria calado e se empanturrava de drogas e álcool para esconder os problemas, ele passou a ser consciente deles, do que os causa e, além de se sentir melhor, usa suas composições para ajudar outras pessoas que enfrentam a mesma luta em relação à saúde mental.

O norte-americano de 41 anos conta que uma das suas vitórias é conseguir usar a música, uma ferramenta que o salvou de dias ainda piores na adolescência e ainda o ajuda hoje, como forma de retribuir para os outros.

"Eu gosto de colocar o que passei nas letras. Sofri com muitas dessas coisas, como ansiedade e depressão, e compor é uma ferramenta para eu falar sobre isso, que é parte do que sou. Nem sempre escrevo sobre como eu me sinto, eu gosto de falar sobre as coisas que eu sei que nossos ouvintes estão passando", explicou ele.

"A depressão é uma maldição e uma benção, porque acaba sendo uma musa inspiradora para mim", acrescenta o vocalista. No álbum Atonement, lançado este ano, ele canta músicas como Take Control (tome o controle, em tradução livre), Know Your Enemy (conheça seu inimigo) e I Am Broken Too (eu também estou quebrado), que já nos títulos mostram essa luta contra doenças mentais.

Jesse conta que os episódios de ansiedade e depressão muitas vezes acontecem quando se está sozinho na estrada, longe da mulher e da família. Um dos piores momentos foi há dez anos, quando ele estava fora do Killswitch Engage e enfrentou pensamentos suicidas. Na mesma época, descobriu que pedalar lhe alegrava e aliviava suas crises.

Outra ferramenta foi passar a falar abertamente sobre isso, inclusive nas redes sociais. "Eu percebi que era OK não estar OK. E demorou, mas percebi que eu tinha de falar sobre isso", disse Jesse, que quando tem crises que lhe tiram o sono ou o deixam fora de controle, sai para pedalar.

Hoje, o metal é uma forma de lembrá-lo o motivo de sua luta. Saber que fará um show para centenas de fãs vira um objetivo para não se deixar levar por dias ruins.

"A luta é para aprender o que você pode fazer para tentar retomar o controle. E a música é um lugar seguro para as pessoas se inspirarem. Quando eu era adolescente, eu não conseguia me relacionar com o que tocava no rádio. Mas aí comecei a ir a shows de hardcore e metal e aquela energia falava comigo. Hoje eu posso dar de volta, e tenho esse feedback de estar ajudando outras pessoas. É uma honra devolver o que a música me deu e atender esse chamado para fazer diferença para outras pessoas", opinou.

Curiosamente, Jesse retornou ao KsE no lugar de Howard Jones, vocalista que sofreu com o mesmo tipo de distúrbios psicológicos, uma causa direta para ele entregar seu posto à frente da banda. Howard foi convidado para participar do disco, cantando ao lado de Jesse em The Signal Fire e fez alguns shows recentes com os ex-companheiros. "Fico muito feliz de ver que ele parece bem saudável agora", comemora Jesse.

Adam Dutkiewicz - Francisco Cepeda/AgNews - Francisco Cepeda/AgNews
Adam Dutkiewicz, guitarrista do Killswitch Engage, durante show no Monsters of Rock, em São Paulo, em 2013
Imagem: Francisco Cepeda/AgNews

Futuro do metal e show no Brasil

Jesse afirmou que a recepção a Atonement vem sendo positiva, inclusive com o álbum aparecendo em listas de melhores do ano de veículos especializados. Como o show é de festival, o repertório será mais curto, mas deve abarcar tanto antigos hits como as novas canções. A vontade é de voltar para um show completo no Brasil.

"Gosto mais dos shows em que fechamos a noite, porque temos mais liberdade para nos comunicar com o público e escolher as músicas. Nós estamos muito orgulhosos do último disco e estamos no ápice. Quero voltar para tocar um show completo, mas, quando a plateia é boa, sempre é divertido", disse ele.

O Killswitch já tem duas décadas de estrada, mas geralmente é colocado como uma banda da "nova geração". Para o vocalista, mesmo quando os dinossauros do estilo, como o Slayer, se aposentarem, ainda haverá uma chama acesa. "As bandas antigas vão embora, mas o metal não vai parar. Nosso segredo é colocar paixão e inspiração. Estamos nessa há duas décadas e continuamos curtindo. O metal sempre vai ter lugar".

O DreamFest conta com Dream Theater fechando a noite, como headliner, e ainda terá Turilli/Lione Rhapsody, Sabathon e os brasileiros do Reckoning Hour abrindo o evento.

Serviço - Dream Festival 2019

Dream Theater (EUA), Killswitch Engage (EUA), Sabaton (SUE), Turilli/Lione Rhapsody (ITA) e Reckoning Hour (BRA)
Data: 07/12/2019 (sábado)
Local: Nova Arena Anhembi
End: Av. Olavo Fontoura, 1209
Horário: 15h (abertura dos portões), 15h30 (primeiro show).

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