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The Crown volta com elenco novo e impecável para falar das agruras do poder

Olivia Colman como a rainha Elizabeth 2ª em The Crown - Sophie Mutevelian/Netflix
Olivia Colman como a rainha Elizabeth 2ª em The Crown
Imagem: Sophie Mutevelian/Netflix
do UOL

Beatriz Amendola

Do UOL, em São Paulo

17/11/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Terceira temporada de The Crown estreia hoje
  • Série volta com elenco completamente renovado
  • Na pele da rainha Elizabeth 2ª, Olivia Colman entrega atuação brilhante
  • A trama explora (e bem) a questão do papel da monarquia em um mundo em transformação

The Crown, da Netflix, tinha um desafio duplo em seu terceiro ano: fazer um elenco completamente novo funcionar e contar a história da monarquia britânica durante um período que, apesar de profundamente marcado pelas transformações sociais, não conta com personagens e acontecimentos tão presentes na memória do grande público - a figura imponente de Winston Churchill, afinal, ficou na segunda temporada, enquanto Margaret Tatcher e Diana só virão na próxima. Nas mãos do criador Peter Morgan, no entanto, tudo se encaixou, mantendo The Crown como uma das melhores séries no ar.

Com uma rainha Elizabeth 2ª (Olivia Colman) madura e plenamente estabelecida em sua posição de soberana, a produção usa seus dez episódios para se aprofundar em seus estudos sobre a natureza do poder e a posição incômoda que a monarquia impõe sobre seus representantes. Se por um lado os títulos e a inacessibilidade conferem uma aura quase mística à rainha e seus familiares, os aspectos mundanos (e escandalosos) de suas existências estimulam uma curiosidade invasiva por parte do público e da imprensa - o que persiste até hoje nas inúmeras manchetes que versam sobre o comportamento de Meghan Markle, a duquesa de Sussex, e as desavenças entre os príncipes William e Harry.

A dicotomia é bem resumida em uma frase do novo primeiro-ministro Harold Wilson (Jason Watkins) a Elizabeth: "Não sabemos o que queremos. Além de querer que vocês sejam ideais. Um ideal". Encontrar o lugar de um ideal, entretanto, se prova uma tarefa ingrata e particularmente difícil no período coberto pela série, que se estende aproximadamente de 1964 a 1977 - uma época em que os costumes passam por mudanças intensas e os rituais e protocolos da monarquia se mostram ainda mais desconectados da realidade, beirando a insensibilidade.

O conflito também encontra ressonância nos personagens a nível pessoal. Elizabeth descobre dolorosamente que o manual que guiou a conduta de reis e rainhas do passado não serve mais; Philip (Tobias Menzies) se vê forçado a confrontar os sonhos dos quais abriu mão ao se tornar parte da realeza; Margaret (Helena Bonham-Carter) acumula frustrações e ressentimentos por seu papel limitado na vida da monarquia; e Charles (Josh O'Connor), o futuro rei, sofre com a falta de afeto e expressão dentro de sua própria família enquanto dá seus primeiros passos na vida pública. A Coroa faz seu peso ser muito mais sentido, especialmente naqueles próximos à rainha.

Olivia Colman e Tobias Menzies são Elizabeth e Philip em The Crown - Des Willie/Netflix - Des Willie/Netflix
Olivia Colman e Tobias Menzies são Elizabeth e Philip em The Crown
Imagem: Des Willie/Netflix

A profundidade com que The Crown retrata esses dramas deve muito ao elenco impecável escalado para a nova temporada. Olivia Colman, premiada no Oscar deste ano por outra rainha em A Favorita, brilha nos detalhes. Assim como sua antecessora, Claire Foy, ela consegue externar os sentimentos conflitantes de Elizabeth por meio de gestos e expressões sutis, que dizem muito mais do que é permitido à monarca colocar em palavras. É por meio deles, também, que Colman confere a maturidade de sua personagem, uma soberana que, ao fim da temporada, terá completado 25 anos de reinado e acumulado dúvidas e aprendizados.

A atriz está bem acompanhada por Tobias Menzies, que dá continuidade ao ótimo trabalho de Matt Smith compondo um príncipe Philip que, com o passar dos anos, tornou-se um pouco menos impulsivo e mais consciente de seu papel na família real, embora ainda conserve uma faceta indomável. Menzies se destaca particularmente no sétimo episódio, Poeira Lunar, em que tem a oportunidade de mostrar o lado mais introspectivo e reflexivo do consorte.

Helena Bonham-Carter, por sua vez, é magnética em seu retrato da princesa Margaret, tão carismática quanto trágica com suas frustrações e suas crises no casamento com Antony Armstrong Jones (Ben Daniels). Vale notar, ainda, os trabalhos de Josh O'Connor e Erin Doherty como Charles e Anne, os filhos mais velhos de Elizabeth e Philip. Às suas maneiras, ambos conseguem humanizar os príncipes e construir com maestria suas personalidades.

Em seus aspectos técnicos, The Crown também continua entre o que há de melhor na TV, com seus cenários exuberantes, figurinos bem elaborados e uma fotografia belíssima. No fim das contas, a série passa com louvor pelo que poderia ser uma transição complicada - e mal podemos esperar para ver o que vem na quarta temporada.

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