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Conheça a Halva, doce típico iraniano com poder de realizar desejos

15/09/2019 10h02

Artemis Razmipour.

Teerã, 14 set (EFE).- A halva é um doce típico do Irã e, segundo a tradição do país, tem o poder de realizar os desejos daqueles que o preparam e o comem no centro da capital Teerã, onde está arraigado um ritual caseiro que celebra e honra o terceiro imã xiita, Hussein.

Centenas de pessoas, na sua maioria mulheres, se sentam em pequenas cadeiras dobráveis, acendem o fogão e deixam a postos as suas panelas, onde preparam um dos doces mais tradicionais do Irã, feito de azeite, farinha e açúcar.

Através desse processo, elas aromatizam toda a região de Galubandak, perto do Grande Bazar de Teerã, que nesta época do ano fica decorado com tecidos pretos, que simbolizam o luto pelo martírio do imã Hussein durante a batalha de Karbala (atual Iraque), no ano 680 d.C..

É tradição que quem passa pelo local pare em sete pontos diferentes, para remover com a colher a halva, uma espécie de pasta de sêmola, e comer um pouco do doce em cada um deles. Enquanto isso, pedem a Deus e ao imã Hussein que realizem seus desejos.

Caso o pedido seja atendido, essa pessoa se juntará no ano seguinte aos preparadores da halva, durante o dia Tasua, que antecede a Ashura, data que marca a morte do imã.

Os participantes da tradição não vêm apenas de Teerã. Muitas mulheres, movidas pela sua forte fé, chegam de várias localidades nos arredores da capital, como Gharchak e Varamin, para cumprir seus votos.

Há alguns anos, o desejo de Fariba, uma fervorosa muçulmana de aproximadamente 50 anos, foi o de se casar com o homem pelo qual estava apaixonada e, para conseguir, recorreu ao preparo da halva no dia de Tasua.

"Era difícil porque este homem tinha mulher e duas filhas, mas, como o nosso amor era tão grande, finalmente ele se divorciou e agora estamos felizmente casados", comentou Fariba, emocionada, à Agência Efe, à qual disse que continua preparando o doce como forma de agradecimento.

A halva é um doce fundamental nas cerimônias de luto no Irã e é servido com frequência quando alguém morre, tanto na mesquita quanto no cemitério ou mesmo em casa.

A origem do seu "poder" para realizar desejos não está clara, e existem diversas versões, mas todas elas conduzem a uma casa no beco Chatrchi, perto do cruzamento Galubandak. De acordo com uma delas, há cerca de 30 anos, vivia na casa uma família, cujo pai era muito religioso e costumava preparar a halva.

Quando ele morreu, os filhos fizeram uma limpeza geral e jogaram fora várias coisas, entre elas o "minbar", como é conhecido o púlpito de onde o imã dá os sermões dentro das mesquitas.

No entanto, o "minbar" retornou misteriosamente à residência e, então, os filhos decidiram retomar as tradições, incluindo a preparação da iguaria.

Outra história relata que uma mulher doente se curou após preparar o doce e, por isso, voltou a prepará-lo no ano seguinte, convencendo mais pessoas sobre os benefícios da tradição.

"Essa mulher que estava doente sonhou que deveria ir ao beco Chatrchi, bater em uma porta e pedir à família que lá vive os utensílios necessários para preparar a halva, já que depois de comê-la conseguiria a cura", explicou à Efe o motorista Reza Qobadi.

Já Qobadi é um veterano: há dez anos, se dedica a preparar a halva, antes acompanhado de sua esposa e, após sua morte, sozinho. Com os olhos cheios de lágrimas, relembrou que ambos se amavam e suplicaram conseguir concretizar a união, já que sua família era contrária ao casamento porque a noiva era divorciada.

Neste ano, o motorista preparou o doce perto do beco Chatrchi, que estava bastante movimentado, principalmente na entrada da casa que deu origem à tradição.

No final do beco, dezenas de mulheres se aglomeravam na frente da pequena porta marrom da residência, chorando e professando os seus desejos da mesma maneira e como o mesmo fervor com que fazem nos santuários. EFE

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