Aprendi a trabalhar sem dinheiro, diz criador do "Encrenca", da RedeTV
Ricardo de Barros passa até 18 horas (ou mais) por dia na sede da RedeTV, em Osasco. Todos os dias. Inclusive domingos. Faz isso porque quer e gosta, como diz na entrevista dada à coluna hoje.
Amigos sempre brincam e perguntam se ele tem vida fora do trabalho. Bem-humorado, responde: "Tenho, sim, estou até namorando". Tadinha da moça.
Dos 48 anos de vida, passou 17 deles dentro da emissora de Amilcare Dallevo e Marcelo de Carvalho. O último ano à frente da superintendência artística da casa, entre outras funções.
Profissionalmente, Ricardo, pode-se dizer, é uma espécie de raio que caiu duas vezes no mesmo lugar.
O primeiro raio caiu na RedeTV quase 17 anos atrás, quando foi um dos idealizadores e criadores do projeto "Pânico na TV".
Ficou à frente do humorístico de 2003 a 2008. O programa fez história (positiva e negativa) na TV aberta e mudou para sempre a chamada "guerra dos domingos", oriunda do início dos 90 e que até então era restrita a Faustão (Globo) e Gugu Liberato (SBT).
Fato: o "Pânico" foi a maior audiência e faturamento da história da RedeTV (não necessariamente tendo sido o mais lucrativo).
O segundo "raio" Ricardo lançou cinco anos atrás, quando foi "pai" pela segunda vez daquele que é --de novo-- o maior sucesso de ibope e faturamento da emissora: o "Encrenca".
Uma virtude visível do superintendente, porém, não é seu poder de criação, mas a capacidade de trabalhar praticamente sem dinheiro. Isso sim é a alegria de seus chefes.
"Na verdade virei especialista em trabalhar sem grana", brinca. Leia a entrevista:
Primeira pergunta: Você está completando 1 ano como superintendente artístico da RedeTV, mas não largou até hoje a direção do "Encrenca". Quantas horas por dia você trabalha?
Ricardo de Barros - Quando a gente gosta do que faz, pode ficar muito tempo no trabalho. Eu fico mais na RedeTV do que em casa. A TV nunca desliga, então eu fico ligado o tempo todo.
Comecei as reuniões do "Encrenca" um ano antes de o programa entrar no ar. Em 2014, três meses antes da estreia, conheci (pessoalmente) Tatola, Dennys, Ângelo e Ricardinho. Temos orgulho do que fizemos. O projeto "Encrenca" cresceu e é divertido demais. Tenho uma equipe incrível, um elenco muito forte e amigo.
Hoje faço a superintendência Artística da Rede TV, (dirijo) o 'Encrenca' e a tenho a direção criativa da Peanuts (braço digital da RedeTV). Produzimos conteúdos para outras plataformas como o YouTube e Facebook.
Como você avalia esse seu primeiro ano na superintendência, em termos de ibope, conteúdos e faturamento?
Ricardo de Barros - Um ano em televisão passa muito rápido. Além da parte criativa, estamos reorganizando a RedeTV. São vários procedimentos que não aparecem para quem vê a gente, mas são muito importantes.
Do controle e diminuição de gastos ao aproveitamento de nossos funcionários e colaboradores. Exemplo: "Tricotando" e "Olga" foram feitos com equipes remanejadas dentro da nossa casa, sem nenhuma contratação. Estou aqui já há 17 anos, vi muita coisa acontecer, eu posso colaborar.
Na RedeTV é assim, muita coisa que dá certo é formato original. Mas, eles demoram normalmente um ano pra 'pegar'.
Incentivei a volta do 'Mega Senha'. Trouxe mais uma opção de faturamento nas tardes com o "Tricotando", que hoje é um sucesso comercial e está melhorando no ibope.
O programa "Olga" começou há pouco tempo, mas já mudamos de horário e agora está crescendo também.
O "Amaury Jr." está de volta. Tenho ideias na fila esperando a vez. Vem mais por aí. Fizemos um piloto do "Casseta & Planeta", que dirigi na Globo em 2012.
A impressão que tenho da RedeTV é que ela tem dificuldade em criar uma imagem, uma identidade própria por causa da presença maçante de igrejas e de outros horários alugados. Como lidar com isso?
Ricardo de Barros - Fazer televisão não é barato e custa caro experimentar. Nós não podemos fazer tantos testes. Colocamos primeiro no ar e vamos acertando com o tempo. Igrejas e concessionários são importantes para manter a empresa funcionando. É uma locação de horário.
Você é o "pai" do Encrenca, hoje a maior audiência da RedeTV. No entanto, você disse que, quando o programa estava quase fazendo um ano, achou (que estava) muito ruim e mexeu em quase tudo. Você acreditava que o "Encrenca" chegaria a se tornar um fenômeno?
Ricardo de Barros - Começamos o "Encrenca" como qualquer outro programas. O elenco saía em duplas para gravar, fazendo matérias de cinco a dez minutos. Não ficou legal.
Eu já ouvia o "Quem Não Faz Toma", programa que o Tatola, Dennys, Ângelo e Ricardinho fazem na 89FM e dava muita risada. Percebi que eles se completavam, que eram fortes. Afinal, a amizade deles já tinha 20 anos.
Um dos criadores (do núcleo), o Marcelo Tadeu, sugeriu passar alguns vídeos e eu combinei com o elenco que eu deixaria os vídeos em tela cheia para que eles narrassem juntos (foi uma experiência).
Aos poucos fui abrindo uma pequena janela à direita da tela. Eles apareciam rindo e comentando tudo. Ali estava a diferença no formato.
O "Encrenca" é um programa inteiramente narrado por mais de três horas. Nós produzimos quase quatro horas de material editado por semana para eles narrarem.
Além disso, eles não sabem qual é a sequência, o que eu vou colocar (no ar). Isso faz com que eles mesmos tenham surpresas ao assistir.
Se eu acreditava? Sim. Depois desse dia eu tive a certeza de que um sucesso viria. Trabalhamos muito para isso acontecer.
Sei que você sofreu no princípio pressão para que o "Encrenca" fosse meio que uma cópia do "Pânico". Mas, que foi contra essa ideia. Por quê?
Ricardo de Barros - O 'Pânico' é meu filho mais velho, foi um sucesso tremendo. Então achei lógico que o caminho do 'Encrenca' fosse outro.
Não tinha humorista no 'Encrenca',o que tinha eram quatro caras bem-humorados. O caminho da família é mais difícil, muito mais complicado e nós optamos por esse caminho. Fomos direto para as crianças, seus pais e avós. E deu muito certo. Está dando né (nota: o programa é 4º lugar no ibope , mas já disputa algumas vezes o 3º; tem picos de audiência próximos de dois dígitos).
Você também é um dos "pais" do "Pânico" na TV, e foi o diretor do programa em seu auge. Sua saída, apesar de parecer tranquila, me pareceu ao mesmo tempo traumática. À época pareceu que você tinha sido escolhido como bode expiatório para as críticas? Quer falar sobre isso?
Ricardo de Barros - Formatei o "Pânico" desde o início, foram cinco anos de trabalho duro. Saí em 2008. Foram muitas conquistas, uma revolução, rachamos a guerra ''Gugu'' x ''Faustão'' na TV.
O ''Domingo Espetacular'', da Record, foi feito nessa época para concorrer também. Ganhamos Troféu Imprensa, APCA, entre outros. Sinceramente? Tínhamos o mundo nas mãos.
Fui montador na publicidade e trouxe uma edição rápida com apoio de artes na tela. A amarração da edição (do Pânico) era espetacular.
Consegui erguer o programa sem gastar quase nada, característica do "Encrenca" também. Baixo custo e alto benefício.
Se posso ser culpado é pelo sucesso do "Pânico na TV". Eles devem ter passado por momentos complicados com a minha saída, tudo mudou de repente.
Eu já tinha tentado (sair) antes de 2008, mas ninguém sabia, só o Emílio Surita. Eu parti para novos desafios, era um caminho mais difícil, mas eu precisava crescer. Aliás, não fiquei rico com o "Pânico na TV", viu?
Soube que até hoje, após cinco anos desde a estreia, o "Encrenca" até não sofreu nenhuma ação judicial. Faz ideia de quantos processos o "Pânico" tinha após cinco anos?
Ricardo de Barros - Muuuuuitos! Mas, olha, processos fazem parte de uma televisão e nem sempre eles são justos.
Naquela época fomos no limite várias vezes. Isso causava uma revolução de audiência, muitas polêmicas e alguns problemas: a temida "Sandálias da Humildade" e outras ideias que desconstruíram as celebridades, por exemplo, causaram muitos.
O "Encrenca", por outro lado, é família. Temos esse compromisso, a ideia é entreter com coisas leves e fazer as pessoas darem muita risada. Eu tomo muito cuidado com tudo que vai ao ar. Assisto a tudo mesmo.
Uma crítica que o "Encrenca" sofre constantemente --inclusive sofreu até de Silvio Santos em rede nacional, no último Troféu Imprensa-- é que se trata de um "amontoado" de videos de "zap", que "não tem conteúdo" ou quadros. "É chato", disse Silvio. Pode comentar isso?
Ricardo de Barros - O programa parece ser muito simples ao assistir. Esse é o segredo. Só que é muito mais complicado de produzir do que o "Pânico". São pequenos tapes de um a três minutos que escolho ao vivo. São muitas horas de trabalho durante a semana.
A 'curadoria' do vídeos do quadro 'Zap Zap' é complexa. Buscamos tudo que está rolando na rede. É, sem dúvida, hoje, a maior participação popular da TV brasileira. Quem assiste aparece também e participa ativamente enviando vídeos durante a semana, e também ao vivo.
Não parece, né, mas (fazer tudo) isso é muito difícil, pois tenho que montar uma operação de guerra em busca desses vídeos todas as semanas. São mais de três horas ao vivo todos os domingos.
Veja: não é fácil produzir quatro horas de material editado por semana. O custo do projeto é baixo, mas o resultado, espetacular.
Assista e você vai ver a diversificação. O formato é moderno e acompanha o que está acontecendo no mundo agora.
Na verdade acho que o "Encrenca" tenta parecer um programa de Youtube...
Ricardo de Barros - Sim, ele tem características de internet: do YouTube, do WhatsApp e do celular, que é o computador de bolso. Eu consegui colocar o rádio na TV, o elenco fala o tempo todo. Essa é a harmonia.
Você me disse que acha que o "Encrenca" é um formato que vai durar muitos e muitos anos? Eu imagino porque você diz isso: é porque as crianças gostam dele, não é?
Ricardo de Barros - Sim, é essa a nossa maior conquista: a criançada. Temos hoje a confiança dos pais e avós, e isso é muito importante. O público vem crescendo a cada ano.
Recentemente o "Encrenca" teve sua classificação indicativa baixada para 10 anos e, em breve, poderá se tornar uma atração "livre". Já o "Pânico" abusava de escatologia, de panicats e de situações constrangedoras. Só que você fez as duas coisas, e tão diferentes. Se arrepende de algo?
Ricardo de Barros - Não me arrependo de nada. Já testei o extremo muitas vezes. Com a minha saída, na verdade, acho que o "Pânico" perdeu o controle nos exageros.
Eu ponderava muita coisa. O programa ficou muito mais caro e deixou de ser simples. O mundo muda e tenho que acompanhar essas mudanças. Ser simples e 'ser família' é mais difícil.
O "Tricotando" foi um dos programas que você lançou este ano. O outro é "Olga". A audiência de ambos tem sido bem baixa... O quanto você é cobrado (pelo ibope)?
Ricardo de Barros - Brigo pela audiência o tempo todo, sou cobrado e cobro também. A audiência ainda pode crescer. O 'Tricotando' já subiu um pouco e o faturamento está ótimo, com oito ações de 'merchandising' e dois 'breaks' comerciais.
O 'Olga' recentemente mudou de horário e precisa se firmar, processo normal, uma boa alternativa.
Desculpe a sinceridade, mas como é que um programa como do padre Alessandro foi ao ar nas manhãs da RedeTV? Saiu do ar após três meses. A mim não parecia adequado nem em conteúdo, nem musicalmente e muito menos no horário de exibição. Foi sua ideia?
Ricardo de Barros - O "Programa do Padre Alessandro" não foi ideia minha, tivemos que atender a uma demanda comercial e colocamos no ar.
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