Conheça marcos da arquitetura de Lina Bo Bardi em SP e sua mostra no Masp
Talvez você não se recorde do nome, mas com certeza conhece uma de suas obras mais famosas: o Masp. E é lá no subsolo, logo abaixo do vão livre de 74 metros - que já foi o maior do mundo -- onde está montada a exposição "Lina Bo Bardi: Habitat". A mostra fica aberta até 28 de julho, quando parte para o Museo Jumex, no México, e para o Museum of Contemporary Art, em Chicago (EUA).
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Achilina di Enrico Bo (1914-1992) nasceu em Roma, veio ao Brasil no pós-Segunda Guerra e passou à história como Lina Bo Bardi. Atuante no campo político-cultural, tornou-se um dos nomes mais importantes da arquitetura no país. Em São Paulo está parte de sua obra arquitetônica mais conhecida: três construções de caráter público e a Casa de Vidro, hoje, aberta à visitação. Um apanhado vivo de seu pensamento e um manifesto por uma cidade mais inclusiva e plural, que nos pertence.
Para Lina, como afirma Marina Grinover - arquiteta e professora com dois livros publicados sobre a italiana naturalizada brasileira -, "a cidade vai além das trocas financeiras, é o lugar do intercâmbio de ideias e sentimentos, do convívio cidadão e onde se vê e se vive o coletivo".
Quatro projetos, cinco décadas, uma cidade
A Casa de Vidro foi o primeiro projeto de Lina a ser construído no Brasil, no início da década de 1950. A construção em uma antiga fazenda de chá no Morumbi foi, por 40 anos, residência da arquiteta e do marido, Pietro Maria Bardi (1900-1999). Ele foi o galerista e crítico de arte convidado por Assis Chateaubriand para criar o Masp.
A casa é um marco modernista com sua caixa envidraçada sobre pilares delgados. Mas a forma, aqui, apesar de racionalista e ideal, já explorava o que se veria nos desenhos de uso público das próximas décadas: a leitura da paisagem, a construção que se liga ao entorno e ocupa o espaço de maneira generosa. "Lina vem de uma matriz intelectual e clássica italiana, forjada no uso dos lugares. Ela flexibilizou o racionalismo, o deixou multifuncional", explica Grinover.
De 1957 a 68, a edificação do Masp foi o desafio dela. O ousado ancoramento da viga suspensa criou o vão que preserva a paisagem e dá lugar para "experimentar a solidão no meio da coletividade", como a própria arquiteta dizia. É a realização de um ideal de liberdade que ganha mais força entre 1977 e 82, quando o projeto do Sesc Pompeia é executado.
No centro cultural, os prédios constituídos por três volumes prismáticos de concreto são aliados aos galpões preservados de uma antiga fábrica de tambores. O velho e o novo se encontram, e a cultura se faz na rua que corta o conjunto, pensada como utopia da cidade. Em ambos é possível ver consolidado o legado de Lina. A chave de sua obra, que liga o espaço interno à cidade, dá força ao uso coletivo e ao encontro das pessoas.
"O trabalho para a Lina era engajado e político na medida que traduzia seu pensamento, ela o vivia intensamente. Não havia uma busca da beleza em si, mas da simplicidade e do convívio que não limitava as pessoas em classes", relata Sonia Guarita do Amaral, presidente do Conselho Administrativo do Instituto Bardi.
No final dos anos 1980 começa a construção do terceiro Teatro Oficina, na Bela Vista, projetado por Lina em parceria com Edson Elito. A obra só seria completada em 1994 e impôs ao novo Oficina uma visão ainda mais integrativa e comunitária do que as sedes precedentes. O palco passarela e as galerias metálicas fazem o público participar do espetáculo, atrelado à cidade pelo imenso janelão de vidro. O projeto é uma espécie de resumo do que se viu nas demais arquiteturas de Lina aqui lembradas.
A mostra
Em "Lina Bo Bardi: Habitat" dá para ver desenhos dos quatro projetos citados. Além de croquis não construídos para o museu, por exemplo. Mas não só. Segundo o curador-chefe do Masp e um dos responsáveis pela mostra, Tomás Toledo, Lina é mostrada como "uma pensadora fundamental do século 20. Ela vai além da arquitetura e do design, faz a intersecção com outros campos das artes e cria uma mescla única entre o pensamento moderno europeu e a cultura brasileira".
A polivalência é a linha mestra da exposição: além de arquitetura, Lina fez curadoria, desenhou cenários e figurinos, fundou dois museus, editou e escreveu em revistas como "Habitat" e "Domus". A arquiteta estendia o projetar para tudo na vida: "Ela conseguia ser transversal, compreendia e fazia da arquitetura uma arte política e de múltiplos olhares, que faz com que a vida possa ser construída e compartilhada", diz Marina Grinover.
As mulheres e o Masp
A exposição faz parte de um calendário cujo foco é a produção feminina. Em 2019, além de seis exposições individuais, o eixo será tema não apenas de uma, mas de duas grandes coletivas paralelas: "Histórias das mulheres" e "Histórias feministas", de 23 de agosto a 17 de novembro. Elas têm a dupla missão de resgatar e difundir o trabalho de artistas mulheres.
Ao ir ao museu para ver Lina até maio, duas outras mostras estarão disponíveis. "Tarsila Popular", sobre a artista plástica modernista Tarsila do Amaral (1886-1973) - que segue até julho - e "Djanira: a Memória de seu Povo" sobre a artista plástica Djanira da Motta e Silva (1914-1979).
Vai lá:
"Lina Bo Bardi: Habitat" - em cartaz até 28 de julho de 2019.
Masp - Avenida Paulista, 1578, São Paulo.
Terça, das 10h às 20h (bilheteria aberta até às 19h30).
Quarta a domingo, das 10h às 18h (bilheteria aberta até às 17h30).
Segunda não abre.
R$ 40 (inteira); R$ 20 (maiores de 60 anos, estudantes e professores); entrada gratuita para crianças menores de 11 anos, amigo Masp e para o público em geral, às terças.
Telefone: (11) 3149-5959.
Mais informações no site.
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