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Como o streaming de música pode ser prejudicial ao planeta

Spotify; app; streaming; música; celular - iStock/Getty
Spotify; app; streaming; música; celular Imagem: iStock/Getty

Sharon George e Deirdre McKay*

BBC Future (The Conversation)

26/03/2019 12h54

A princípio, os CDs e o vinil podem parecer mais nocivos ao meio ambiente, mas já parou para pensar na energia que é consumida quando ouvimos música por streaming?

O streaming se tornou a maneira mais popular de ouvir música, mas formatos antigos como fitas cassetes e discos de vinil registraram aumento nas vendas nos últimos anos. No caso do vinil, o crescimento foi 1.427% desde 2007 - apenas no Reino Unido foram vendidos cerca de 4 milhões de LPs em 2018.

Como o interesse pelo vinil não apresenta sinais de que vá diminuir tão cedo, isso significa que mais discos não recicláveis serão fabricados - o que pode ter um impacto negativo no meio ambiente.

Embora as capas dos álbuns sejam feitas geralmente de papelão reciclável, os discos, que eram originalmente de goma-laca, foram substituídos pelo vinil, que não é reciclável.

A goma-laca é uma resina natural secretada pela fêmea do inseto Kerria lacca, que era extraída das árvores para produzir os discos para gramofone. Como a goma-laca não é derivada de combustíveis fósseis, sua pegada de carbono é menor do que a dos vinis modernos.

Os discos de goma-laca eram frágeis e sujeitos a danos causados pela água e pelo álcool. Assim, os discos de vinil - ou policloreto de vinila (PVC), um tipo de plástico - foram desenvolvidos como uma alternativa mais durável.

Em condições ideais, com pouco oxigênio e nenhum movimento, os resíduos de PVC podem levar séculos para se decompor.

As condições ambientais da maioria dos aterros sanitários - com acidez e temperaturas variadas do solo - podem fazer com que os álbuns de vinil descartados liberem solventes adicionados ao plástico para torná-lo mais flexível e resistente. Eles podem durar mais que o próprio aterro ou escapar para o meio ambiente como poluentes.

Evolução do armazenamento de música

Os discos modernos contêm, em média, cerca de 135g de material de PVC com uma pegada de carbono de 0,5 kg de dióxido de carbono - com base em 3,4 kg de CO? por 1 kg de PVC.

As vendas de 4,1 milhões de LPs produziriam 1,9 mil toneladas de CO? - sem levar em conta transporte e embalagem. Essa é a pegada de carbono total de quase 400 pessoas por ano.

Nos anos 1980, os discos foram substituídos pelos CDs, que prometiam maior durabilidade e qualidade de som. Os CDs são feitos de camadas de policarbonato e alumínio, que têm um impacto ambiental ligeiramente menor do que o PVC, e seu processo de fabricação usa menos material que o dos LPs.

No entanto, os CDs não podem ser reciclados porque são feitos a partir de uma mistura de materiais - e o processo de separação de seus componentes para reciclagem além de ser complexo, não é viável economicamente.

Fora isso, os CDs são embalados em caixas frágeis de policarbonato, que apesar de serem feitas de um único material, não são geralmente recicladas. Eles tampouco são tão indestrutíveis quanto muitas pessoas pensavam, de modo que CDs riscados e danificados acabam com frequência em aterros sanitários.

Embora os CDs de alta qualidade possam durar de 50 a 100 anos em condições ideais, esse não é o caso de muitos dos discos postos no mercado. Estes são facilmente danificados pela exposição direta à luz solar e ao calor, deformados por mudanças rápidas de temperatura, arranhões, impressões digitais e manchas - o que faz com que sejam descartados rapidamente.

O salto do streaming

A tecnologia digital atual, no entanto, nos oferece uma qualidade musical impecável, sem deterioração física. Ela é fácil de copiar e fazer upload, e pode ser transmitida online sem necessidade de download.

Isso quer dizer que a música digital é mais sustentável quando comparada ao vinil ou ao CD?

Embora o novo formato não dependa de uma mídia física, não significa que não tenha impacto ambiental.

Os arquivos eletrônicos que baixamos são armazenados em servidores ativos e refrigerados. A informação é recuperada e transmitida por meio da rede para um roteador, que transfere por wi-fi para nossos dispositivos eletrônicos. Isso acontece toda vez que ouvimos uma música por streaming, o que consome energia.

Quando você compra um vinil ou CD, ele pode ser reproduzido repetidas vezes - o único custo de carbono vem de ligar o toca-discos. No entanto, se ouvirmos música por streaming em um aparelho de som hi-fi (de alta fidelidade), estima-se que o consumo de eletricidade seja de 107 quilowatts-hora por ano. Um CD player consome 34,7 quilowatts-hora por ano.

Qual seria a opção mais ecológica?

Depende de uma série de fatores, incluindo quantas vezes você escuta a música. Se você só ouve a faixa algumas vezes, o streaming é a melhor opção.

Mas se você escutar repetidamente, é preferível a cópia física - transmitir um álbum pela internet mais de 27 vezes pode consumir mais energia do que é necessário para fazer um CD.

Como o streaming de música pode ser prejudicial ao planeta - Getty Images via BBC - Getty Images via BBC
Imagem: Getty Images via BBC

Se você quer reduzir seu impacto no meio ambiente, o clássico vinil pode ser uma boa opção para álbuns físicos. Para música online, o armazenamento local - em telefones, computadores ou unidades de rede locais - mantém os dados mais próximos do usuário e reduz a necessidade de streaming de servidores remotos por meio de uma rede que consome muita energia.

Num mundo em que cada vez mais nossas relações econômicas e sociais acontecem online, os LPs e outros formatos de música vintage contrariam essa tendência.

Em vez disso, a ascensão do vinil nos mostra o que esperamos da mídia e da vida em geral - experiências valiosas que, com amor e carinho, sejam duradouras.

Os formatos de música mais antigos têm um senso de significado e permanência vinculado a eles, se conectando com a gente de uma maneira que a música digital simplesmente não é capaz de fazer.

Parece que seja qual for o formato, ter uma cópia da nossa música favorita, e reproduzi-las várias vezes, pode ser a melhor opção para o meio ambiente.

* Sharon George é professora de ciências ambientais e Deirdre McKay é professora de geografia e política ambiental, ambas na Universidade de Keele, no Reino Unido. Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons.

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