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Ex-Twisted Sister fala sobre Trump e onda conservadora: "Boa hora para a música"

Dee Snider, ex-vocalista do Twisted Sister - Divulgação
Dee Snider, ex-vocalista do Twisted Sister Imagem: Divulgação
do UOL

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

23/03/2019 04h00

Dee Snider sabe o que é lutar contra a censura e ser confrontado por uma sociedade conservadora. Nos anos 1980, o líder do Twisted Sister, que usava maquiagem pesada para ir ao palco tocar seu hard rock, foi criticado por conta das letras da banda e teve de testemunhar no Senado americano para defender sua causa. Quase três décadas depois, ele se vê novamente diante de uma sociedade com conservadorismo em alta. Desânimo? Não para ele: "É uma boa hora para fazer música".

Aos 64 anos, Dee Snider volta ao Brasil com sua banda, promovendo o elogiado "For The Love of Metal", álbum solo lançado no ano passado. Depois de Curitiba, ontem, ele se apresenta em São Paulo, sábado, no Tom Brasil. Estar no Brasil, tocando um dos álbuns mais pesados da carreira, é uma surpresa para ele mesmo.

"Estou com 64 anos e nem acredito que estou fazendo isso. Nós nos aposentamos com o Twisted Sister, mas eu pensei: 'acho que ainda não encerrei minha carreira'. Fiquei surpreso com a resposta das pessoas. O Dee Snider está de volta, voltei para minha raiz, que é o metal, e o disco reflete o que quero fazer, tanto que já estamos trabalhando no 'For the Love of Metal 2'."

Dee Snider, ex-vocalista do Twisted Sister, e Jamey Jasta - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Dee Snider, ex-vocalista do Twisted Sister, e Jamey Jasta, produtor e compositor de seu disco solo
Imagem: Reprodução/Instagram

Snider precisou de um empurrãozinho de Jamey Jasta, mais conhecido por ser vocalista da banda Hatebreed. Foi dele o convite para compor e lançar o álbum solo. Mais do que produtor, Jasta compôs as músicas que ele tinha certeza que eram as que os fãs do veterano norte-americano queriam ouvir.

"Eu o conheço há anos, e ele me desafiou: 'Eu sei o que você precisa fazer'. Então, me joguei nas mãos dele, simplesmente pelo amor ao metal. Eu não acreditei. Perguntei pra ele: 'Você teve uma visão divina, os deuses do metal te possuíram?'", conta o vocalista.

Trump, Bolsonaro e as mentiras

A primeira faixa de "For the Love of Metal" diz em seu título que "mentiras também são um negócio". Para quem acompanha Dee Snider, é impossível não relacionar ao nome de Donald Trump, presidente norte-americano que foi seu "chefe" na edição norte-americana de "O Aprendiz Celebridades". Snider chegou a aparecer cantando "We're Not Gonna Take It" com Trump em um evento de caridade.

O vocalista se considerava amigo de Trump, mas a relação entre eles foi por água abaixo com um aprofundamento das visões radicais do empresário em relação à política. "Não posso mais ser amigo dele", chegou a dizer, em 2017. Em 2018, pediu uma chance ao presidente. Mas, atualmente, mostra ter pouca paciência.

Dee Snider e Trump - Reprodução/Youtube - Reprodução/Youtube
Dee Snider e Trump em evento de caridade
Imagem: Reprodução/Youtube

"Não estou impressionado com nada que ele faz. Às vezes eu até entendo o que ele está falando, mas é raro. Eu sou da opinião que neste regime com mandato de quatro anos, não é saudável apenas confrontar, acho que se o cara está lá, é preciso dar alguma chance a ele. Eu pelo menos o vejo como 'honesto' em suas mentiras. Como digo na música, mentiras são um negócio hoje", opina Snider.

O norte-americano não conhece Jair Bolsonaro, presidente do Brasil que levanta bandeiras radicais da direita, mas diz que vê o mesmo exemplo em outros países. "Chamam ele de 'Trump tropical', né? Essas pessoas estão em todo o mundo, não é só na América. Na Austrália tem esse cara que é acusado de roubos e que usou minha música ilegalmente... Conservadores sempre estiveram por aí, não acho que são mais numerosos, mas são os mais barulhentos e querem que se faça o que eles querem. Isso é a pior parte da nossa sociedade. Mas, com tudo isso, é uma boa hora para se fazer música pesada."

Questionado se o Twisted Sister caberia nos tempos atuais, o vocalista tem suas dúvidas. "Tudo acontece no momento certo. Os anos 80 tinham muito do conservadorismo, foi um período difícil, mas foi o tempo certo pra gente aparecer. Éramos sérios no que fazíamos. Tínhamos senso de humor. Nossa música é agressiva e pesada, mas fazemos com alegria".

Dee Snider em seus tempos de Twisted Sister - EFE - EFE
Dee Snider em seus tempos de Twisted Sister
Imagem: EFE

Arrependimento com o Brasil

Dee Snider se diz um apaixonado pelo Brasil, mas lamenta não ter conseguido tocar no auge com o Twisted Sister. Para o show deste sábado, ele promete misturar novos sons com clássicos da sua ex-banda.

Seu maior arrependimento, na verdade, é nunca ter se apresentado no Rock in Rio. "Eu participei em 2015 com o Angra, mas queria ter tocado com a minha banda. Me arrependo de não ter ido ao Brasil mais cedo. Nós fomos, mas já nos anos de reunião [em 2010 e 2013]. Teria sido incrível tocar nos anos 80, quando éramos jovens e insanos. Mas tenho ótimas lembranças e uma paixão tremenda pelo Brasil."

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