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Unidos da Tijuca trará padre cantando seu samba na Sapucaí

Padre Omar em ensaio de rua  - Mauro Samagaio/Divulgação
Padre Omar em ensaio de rua Imagem: Mauro Samagaio/Divulgação
do UOL

23/02/2019 04h00

Com um enredo que fala do pão como elemento de solidariedade e fé, a Unidos da Tijuca trará, como um de suas atrações, um padre cantando seu samba-enredo. Atuando no carro de som da azul e amarela ao lado da equipe do intérprete oficial, Wantuir, Omar Raposo fará sua estreia na Marquês de Sapucaí e vê na ocasião mais uma oportunidade de afirmar que a fé e a folia podem caminhar juntas. "O Carnaval é um dos principais eventos da cidade. Existe muita cultura na fé e muita fé na cultura. Minha presença no desfile pretende criar pontes entre esses dois mundos", afirma.

Reitor do Santuário do Cristo Redentor e pároco da igreja de São José, na Lagoa, zona sul do Rio, o padre de 40 anos sempre teve a musicalidade no sangue. Desde jovem conciliou os estudos de música clássica com a formação religiosa. No sacerdócio há 15 anos, estudou piano no Conservatório Brasileiro de Música e fez curso de música sacra em Roma. Porém, encontrou no samba a vertente ideal para pregar. "Eu percebi que a música clássica não chega nas grandes massas e eu precisava atingir as pessoas. Pensei que, atuando no Rio, o samba seria a linguagem sonora que chegaria mais fácil aos corações", relata.

Com isso, instrumentos como o piano e o órgão ficaram de lado e outros, como pandeiro, surdo e cuíca entraram em cena. Usando o samba como meio de propagar a mensagem católica, padre Omar gravou dois CDs e um DVD. No projeto "Samba de Fé", conta com a participação de bambas como Xande de Pilares, Fundo de Quintal, Jorge Aragão, Molejo e Elymar Santos. 

O currículo atraiu a atenção do presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, que fez o convite a padre Omar. "Eu aceitei de coração e vi que estava perfeitamente contextualizado no enredo. A mensagem da Tijuca é de solidariedade e fé. Desta forma, vi  que seria muito pertinente a presença de um padre em seu desfile", relembra.

A aceitação da comunidade foi imediata e o entrosamento com os cantores da escola, natural. Padre Omar, na medida do possível, se faz presente nos ensaios e eventos da agremiação. No ensaio técnico, na Sapucaí, no último dia 10, comandou uma oração do Pai Nosso na concentração: "Foi um momento sublime. A cidade vinha se ressentindo de várias tragédias e precisávamos passar uma mensagem de paz e amor para todo aquele povo".

Dentro da igreja, o sacerdote afirma que não teve problemas. E destaca que a Igreja Católica, sob a gestão do cardeal Orani Tempesta, tem estabelecido um diálogo constante com o Carnaval. "Existe uma demonização da festa e nós precisamos estabelecer um diálogo com um dos principais traços de cultura do carioca. Indo nos ensaios da Tijuca, me surpreendi com a quantidade de católicos que desfilam em escola de samba. Carnaval é arte e a fé é algo individual. Ambos merecem ser respeitados", defende Padre Omar, que, inclusive, promove um bloco de Carnaval em sua paróquia que fará seu desfile no próximo sábado.

Como todo cantor de samba-enredo, padre Omar está se preparando para brilhar na Sapucaí. A escola colocou uma fonoaudióloga à sua disposição: "Cantar samba-enredo é bem diferente. O som não vibra na garganta, e sim, no rosto. É quase uma hora e meia cantando a mesma música, de forma seguida. Estou me preparando para cumprir bem meu papel. O descanso, fundamental para o desempenho, está garantido. Dias antes do desfile, padre Omar fará um retiro espiritual por uma semana. "Já estava programado e acabou vindo a calhar", comemora.

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