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Por que o Oscar sem apresentador em 1989 foi um fracasso?

Rob Lowe e Eileen Bowman durante o Oscar 1989 - Reprodução
Rob Lowe e Eileen Bowman durante o Oscar 1989 Imagem: Reprodução
do UOL

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

23/02/2019 04h00

O Oscar 2019, que acontece amanhã, não terá um apresentador oficial. Na última vez em que isso aconteceu, em 1989, a cerimônia ficou marcada por momentos constrangedores e performances tão desastrosas que poucos se lembram que "Rain Man" venceu como melhor filme e Jodie Foster se consagrou melhor atriz por "Acusados".

Quem resolveu mudar a cara do maior evento do cinema foi o produtor Allan Carr, que tentou reinventar o Oscar através de números artísticos. A situação ficou tão feia para a Academia que 17 nomes importantes de Hollywood escreveram uma carta aberta na ocasião citando que a cerimônia foi uma "vergonha para a indústria cinematográfica inteira".

Entenda a seguir todos os detalhes que fizeram do 61º Oscar um fracasso.

Branca de Neve 

Foi visível que a cerimônia seria algo inédito desde a cena de abertura. A introdução ficou a cargo de Branca de Neve, Não uma atriz famosa, mas uma desconhecida vestida de Branca de Neve e cantando as notas mais agudas que o Oscar já tinha ouvido. No número, a novata Eileen Bowman passeou pelos artistas, visivelmente envergonhados, enquanto pessoas vestidas de estrelas se mexiam no palco, quase um teatro infantil.

Encontro às cegas

Ainda na abertura,  Merv Griffin surgiu no palco para cantar "I've Got a Lovely Bunch of Coconuts" antes de revelar que a princesa da Disney tinha um encontro às cegas naquela noite. Com quem? Rob Lowe. O ator, em 1988, teve seu nome envolvido em um escândalo sexual após ser filmado fazendo sexo com uma adolescente de 16 anos. Apesar de o caso não ser considerado crime no estado da Georgia (EUA), o vídeo manchou a imagem do astro.

Quando chegou a hora de cantar, Rob deu mais um empurrão para que a apresentação do Oscar fosse marcada para sempre, em uma versão um tanto de desafinada de "Proud Mary". A letra foi mudada para brincar com o cinema, e falava "deixe as câmeras gravarem", o que não é muito bom quando você virou notícia por um vídeo de sexo com uma menor de idade.

Carmem Miranda, é você?

Fora os cantores, todo o cenário, figurino e coreografia, os números do prêmio foram de um exagero tremendo. Como apontou o THR, Allan Carr recorreu ao produtor e criador de musicais de San Francisco, Steve Silver, para planejar as apresentações, que não funcionaram no tradicional evento

A confusão dos dançarinos, cada um vestido de uma coisa, coqueiros falsos espalhados pelo palco para reproduzir um clima tropical e "Carmens Mirandas" usando drinks na cabeça transformaram o show de abertura em uma miscelânea de sons, cores e visuais. Em outro momento, uma fileira de bailarinos jogavam as pernas de um lado para o outro, tudo sincronizado, como se estivessem em um cabaré da década de 40. 

"Estrelas do amanhã"

Em outro momento constrangedor, a cerimônia reuniu promessas de Hollywood para um ato musical. Entre eles estavam Patrick Dempsey, Chad Lowe, Keith Coogan, Corey Feldman, Christian Slater e Patrick O'Neal.

Mesmo não sendo tão embaraçoso quanto a abertura, a apresentação contou novamente com tons exagerados que simplesmente não combinavam com o Oscar, como uma luta de espadas e um número de sapateado.

As consequências

Após a cerimônia vexatória, a Disney percebeu que a Academia não tinha licença para usar a Branca de Neve e entrou na Justiça por violação de direitos autorais e diluição de reputação comercial. Já Allan Carr nunca mais trabalhou como produtor em Hollywood. 

A novata Eileen Bowman, que interpretou a Branca de Neve, foi obrigada a assinar um documento após a cerimônia para garantir que ela não falaria nada sobre a experiência do Oscar. E a carreira dela em Hollywood não decolou. Bowman só conseguiu pontas em filmes B, como "Os Tomates Assassinos Atacam a França".

Rob Lowe deu uma entrevista para a Vanity Fair em dezembro de 2018 para falar do vergonhoso momento, que aceitou fazer na época porque era "jovem e ingênuo". "[Foi] um grande erro. Eu sempre achei que o Oscar fosse um escapismo divertido para os americanos, onde comemoramos e honramos o ofício de fazer filmes. O que eu não percebi foi a profunda seriedade, e a contribuição para a sociedade como um todo que a noite representa".

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