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Carnaval 2019

Megabloco de noivas, Casa Comigo começou com "vaquinha" de 100 reais 

Raul Cilento, um dos fundadores do Casa Comigo - Divulgação
Raul Cilento, um dos fundadores do Casa Comigo Imagem: Divulgação
do UOL

Daniel Lisboa

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/02/2019 04h00

Em 2013, o músico Raul Cilento e um apanhado de amigos fizeram uma "vaquinha" para coletar R$ 100 de cada um e organizar um bloco de Carnaval. A grana seria investida basicamente na compra de cerveja e no aluguel do equipamento de som. Em suma, nada muito sério: apenas uma zoeira -bem organizada e feita com carinho, é verdade- de "brothers" que gostavam de Carnaval. Mas a coisa desandou, e para o lado bom.

"Até ficamos na dúvida se deveríamos sair mesmo com o bloco, se não era o caso de esperar o ano seguinte. Mas, como São Paulo quase não tinha blocos naquela época, pensamos que mesmo um bloco 'mais ou menos' agradaria ao público", diz Raul. 

De fato, em 2013, a folia de rua estava só começando a botar a cara para fora em São Paulo. Os blocos ainda eram pouquíssimos, e o público, irrisório. O Casa Comigo reuniu, à época, cerca de mil pessoas. Isso porque, divulgado apenas pelo Instagram, atraiu muito mais gente que o esperado. Dois anos depois, Raul calcula que 30 mil pessoas já seguiam o bloco.

Raul Silencio, um dos fundadores do bloco Casa Comigo - Edu Pimenta/Divulgação - Edu Pimenta/Divulgação
Raul fundou o bloco com os amigos
Imagem: Edu Pimenta/Divulgação
Em 2016, o Casa Comigo precisou deixar as ruas tranquilas da Vila Beatriz, na zona oeste, e migrar para a avenida Faria Lima, porque o bairro já não comportava, digamos, um evento daquele porte. E põe porte nisso: o público estimado do bloco no ano passado foi de 500 mil pessoas. 

"Éramos um grupo de amigos que curtia Carnaval e estava envolvido com música. Fazíamos marchinhas próprias, que falavam de amor, baseadas nas marchinhas antigas", conta Raul. "Aí, chegou uma época em que fomos morar todos na mesma região e veio a ideia, meio descompromissada, de fazer um bloco."

O músico conta também que, à época, praticamente todos os integrantes eram "solteiros convictos". Junte isso ao gosto pelas marchinhas antigas e nasceu a essência do Casa Comigo: o bloco, com suas já tradicionais foliãs vestidas de noivas e músicas autorais, promove o amor no Carnaval. Só que, digamos, de uma maneira mais poética e lúdica do que a da habitual pegação associada à folia. 

"As velhas marchinhas falavam da possibilidade de você achar um grande amor no Carnaval. Tinham essa temática romântica, e achamos que isso estava meio em decadência com tantas músicas que valorizam outras coisas", explica Raul. 

O músico diz que não é comum ter problemas com desrespeito ou assédio entre os foliões do Casa Comigo. "O público que vem ao bloco costuma ser consciente, e nós também incentivamos isso. Já trouxemos, por exemplo, o tema 'amores livres', que defendeu a ideia de que qualquer tipo de amor é permitido no Carnaval. Também tivemos o 'hater eu te amo', sobre esse discurso de ódio que vemos muito no dia a dia e que precisamos combater com amor."

Ellen Jabour - Bloco Casa Comigo lota Largo da Batata e ruas de Pinheiros, em São Paulo - Edson Lopes Jr./UOL - Edson Lopes Jr./UOL
Ellen Jabour, de noiva, e a multidão ao fundo, no Carnaval do ano passado
Imagem: Edson Lopes Jr./UOL

Se Raul imaginava, lá em 2013, que seu "bloquinho de amigos" resultaria nisso? Lógico que não, ele admite. Ainda mais se alguém lhe dissesse que, em 2019, eles tocariam ao lado dos Demônios da Garoa. "Decidimos fazer um Carnaval em homenagem a São Paulo, contar sobre esse período que o Carnaval ficou adormecido e depois ressurgiu, e pensamos que nada melhor do que convidá-los para fazer uma música conosco", conta Raul.

 Ao lado dos também fundadores do bloco Raphael Guedes, Raul Cilento, Fernanda Toth e Marcel Mangione, Raul fez o convite, e a banda-símbolo da cidade de São Paulo topou gravar a música tema deste ano, "Carnaval em SP". Não apenas isso: o grupo vai se apresentar ao lado do bloco no desfile do dia 23 de fevereiro. 

Para completar um ano que tem tudo para ser marcante para Raul, a profecia do Casa Comigo parece, ao menos para ele, ter se cumprido: ele não apenas encontrou um amor, Bruna Faria, como será pai. E adivinhe qual é a data prevista para o nascimento da filha? "Pode ser agora, enquanto estou falando com você. Ou será no Carnaval."

 Mas e se a futura foliã nascer bem quando ele estiver em cima do trio, animando milhares de pessoas? "Você e todos meus amigos querem que isso aconteça. Mas já estou mentalmente acordado com ela [a filha] para isso não acontecer. Estarei ao lado da minha mulher quando ela nascer", decreta o músico. 

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